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A História do GSM

Descubra como toda esta febre começou….

No princípio dos anos 80 começaram a aparecer na Europa os primeiros sistemas de comunicações celulares móveis. O grande ênfase na altura era a instalação de redes locais, analógicas, que eram específicas a cada país. Tal significava que um telemóvel apenas funcionava no país no qual era comprado, devido à incompatibilidade dos vários sistemas. Escusado será dizer que, nesta altura, o “roaming” era apenas uma miragem no horizonte. O isolamento dos vários sistemas começou desde cedo a preocupar os responsáveis, conscientes dos problemas que iriam surgir no futuro. A própria capacidade das redes era limitada, devido ao facto de ser analógica e de não poder suportar durante muito tempo o aumento crescente do número de utilizadores.

Uma necessidade incontornável
Questões políticas
O desenvolvimento do sistema
Contagem final para o lançamento
Expansão mundial

Os custos ligados à pesquisa e desenvolvimento da tecnologia móvel era muito elevados, o que levou fabricantes e operadores a consideraram sistemas globais, de forma a que se pudessem criar economias de escala. Desta forma seria possível suportar os custos elevados e um aumento da produção levaria a uma diminuição dos preços, através da criação de padrões que pudessem ser vendidos à escala internacional. Em 1982 nasceu a CEPT (Conférence des Administrations Européenes des Postes et Télécommunications), a forma encontrada para responder a estas questões, composta pelas administrações das operadoras públicas de 26 países europeus. Os membros que compunham esta organização eram empresas estatais, que tinham posição de monopólio nos seus países e que consideravam os interesses nacionais como o seu primeiro objectivo. Apesar disto, a sua primeira acção foi afirmar a necessidade de acção concertada de forma a garantir a sobrevivência económica dos sistemas móveis. Com este fim, foi criada pela CEPT o Groupe Spéciale Mobile (GSM), com o objectivo de desenvolver especificações técnicas para uma rede europeia de telecomunicações móveis capaz de suportar os vários milhões de futuros assinantes do novo serviço. Os problemas que o grupo enfrentava eram de várias ordens: técnicos, políticos e económicos. Contudo, as recompensas seriam altas e não existia uma outra solução aceitável para o problema.

O Grupo definiu os seguintes requisitos para a 2ª geração de telemóveis:

  • Boa qualidade de serviço
  • Terminais e serviços baratos
  • “Roaming” internacional
  • Possibilidade de utilização de terminais portáteis
  • Poder suportar futuros novos serviços
  • Eficiência de espectro
  • Compatibilidade com os sistemas RDIS

Desde o princípio que o Grupo tinha em mente que o novo “standard” devia utilizar a tecnologia digital ao invés da analógica e operar na frequência de 900 MHz. Assim, seria possível oferecer uma transmissão de alta qualidade e utilizar mais eficientemente o curto espectro disponível, possibilitando mais chamadas. O sistema também possibilitava o desenvolvimento de características como chamadas seguras e a transmissão de dados. A tecnologia digital também possibilitava terminais mais pequenos e mais baratos.

Apesar do sistema ter nascido de uma necessidade económica, tal iniciativa necessitava de apoios políticos para ser concretizada. Felizmente, as autoridades reconheceram a validade do projecto e em 1984 a Comissão Europeia deu o seu apoio formal ao GSM. Este factor revelou-se decisivo nos anos seguintes. Em 1985, a Alemanha, França e Itália assinaram um acordo com vista ao desenvolvimento do GSM. O Reino Unido juntou-se a estes países no ano seguinte.

Entretanto, era necessário entrar em acção, devido a que o sistema analógico estava a ocupar cada vez mais frequências do limitado espectro disponível. A pressão de países como a França e a Alemanha levou a que, em Dezembro de 1986, a Comissão Europeia levasse o assunto à Conferência de Chefes de Estado e de Governo. Daqui saiu uma recomendação e uma directiva que estabeleceram as fundações políticas do GSM. A recomendação delineava uma introdução coordenada do GSM, apoiada pela então Comunidade Económica Europeia, com o lançamento limitado do serviço em 1991, seguido de uma cobertura completa das principais cidades em 1993 e a união de todas as áreas em 1995. A directiva ditava que cada Estado-membro era obrigado a reservar os blocos necessários na frequência de 900 MHz de forma a assegurar a implementação do sistema.

O passo seguinte levava a que fosse necessário que os potenciais operadores se comprometessem com o futuro sistema, de forma a que se pudesse começar a estabelecer a rede. Isto levou a que se criassem o Memoradum of Understanding (MoU), um acordo por parte das operadoras. A sete de Setembro de 1987, foi assinado o primeiro MoU, o qual incluía 15 signatários, entre as quais a Portugal Telecom, num total de 13 países. Já em 1986 o Groupe Spéciale Mobile (Grupo) havia-se sido nomeado como responsável pelo desenvolvimento do GSM, tendo sido criado um Núcleo Permanente, com sede em Paris.

A partir desse momento começaram a ser testadas as várias soluções tecnológicas possíveis para os sistemas de 2ª geração. Vários modelos de transmissão e divisão das frequências foram experimentados, com a escolha a cair sobre a tecnologia TDMA (Time Division Multiple Access). Esta decisão foi essencial, na medida que era apoiada pelas principais fabricantes, como a Nokia, a Ericsson e a Siemens. As experiências realizadas comprovaram que o sistema iria funcionar e em Fevereiro de 1988 os operadores signatários do MoU adoptaram uma combinação do TDMA com o FDMA (Frequency Division Multiple Access).

Apesar deste passo, faltava elaborar todas as especificações técnicas, uma tarefa quase impossível face aos prazos estabelecidos anos antes, quando não havia noção nem da escala nem da complexidade do trabalho necessário. Para se ter uma ideia, em 1997, os manuais com as especificações do GSM já continham 8000 páginas.

Em 1989 o projecto teve um impulso, com a criação do ETSI (European Telecommunications Standards Institute), o qual veio substituir o Núcleo Permanente do Grupe Spéciale Mobile. No ano seguinte foram divulgadas a maioria das especificações da primeira fase do GSM, a qual seria lançada dia 1 de Julho de 1991, cobrindo as principais cidades e aeroportos europeus. Entretanto, no Reino Unido, duas operadoras haviam decidido lançar um serviço móvel conhecido como Personal Communications Networks, a operar na banda dos 1800 MHz. Apesar deste facto aparentemente significar ser um revés, as empresas decidiram adoptar o GSM, de uma forma ligeiramente modificada. O ETSI ficou responsável pelo desenvolvimento deste sistema, conhecido como DCS1800. Em 1997 o sistema foi redesignado como GSM1800, sendo actualmente uma das frequências utilizadas pelos telemóveis “dual band”.

Aquando da introdução do sistema em 1991, as operadoras encontravam-se a braços com um problema de falta de terminais. Os equipamentos desenvolvidos pelos fabricantes necessitavam de passar por uma série de testes exaustivos, para verificar que possuíam completa compatibilidade com o sistema GSM. O problema encontrava-se que um telemóvel não homologado poderia causar danos às redes. Uma características dos telemóveis actuais que nasceu desta necessidade foi o estabelecimento de um IMEI (International Mobile Equipment Identity) individual para cada equipamento, de forma a que a rede podesse identificar qual o modelo do telemóvel que estava a procurar ligar-se. A solução final para esta questão apareceu em Abril de 1992, através da introdução do Intern Type Approval (ITA). Os telemóveis não precisavam de ser completamente compatíveis, apenas eram testados para assegurar que não iriam causar problemas às redes.

Devido a isto, o GSM apenas foi realmente lançado na segunda metade de 1992, com a TMN e a Telecel a situarem-se dentro das primeiras operadoras europeias a lançarem o sistema. A 17 de Junho de 1992 o primeiro acordo de “roaming” foi assinado entre a Telecom Finland e a Vodafone no Reino Unido. No fim de 1993, já existiam um milhão de utilizadores GSM na Europa, com o número de signatários do MoU a ascender a 70 membros, oriundos de 48 países, tendo sido assinados 25 acordos de “roaming”.

O aparecimento do GSM teve também um impacto ainda maior a nível das telecomunicações: a abertura dos mercados a operadoras privadas. Os novos intervenientes trouxeram consigo estratégias de marketing agressivas e uma lógica comercial ao sector. Como consequência, as tarifas praticadas começaram a baixar e a qualidade do serviço a aumentar. Em 1993 o primeiro serviço DCS1800 foi lançado pela Mercury One-2-One na Inglaterra.

Um aspecto notável foi a adopção por parte da operadora australiana Telstra do GSM em 1992. Alguns anos mais tarde, o sistema já se tinha expandido para a India, África, Ásia e Médio Oriente. Em 1995 o MoU já englobava 156 membros, divididos por 86 países, com 12 milhões de clientes. Neste mesmo ano a segunda fase do GSM foi estandardizada, possibilitando o envio de dados, fax e vídeo através do GSM. Nos Estados Unidos, a FCC (Federal Communications Commission) decidiu abrir partes da frequência dos 1900 MHz para usos móveis, com a escolha do sistema por parte das operadoras. O PCS1900 foi então desenvolvido, uma variação do GSM com vista às oportunidades recém-abertas no mercado norte-americano (no qual a maioria das operadoras utiliza o CDMA). Em Novembro de 1995 o primeiro serviço PCS1900 foi lançado nos EUA. O significado da sigla GSM foi entretanto alterado para Global System for Mobile telecommunications.

Actualmente os sistemas GSM900/1800/1900 são utilizados em 135 países, com 345 milhões de utilizadores espalhados por 366 redes. O recente lançamento de terminais triband possibilita capacidades de roaming cada vez maiores, na medida que os utilizadores já podem utilizar as três frequências disponíveis.

Em Portugal, a terceira operadora nacional, a Optimus, entrou no mercado em 1998. Segundo dados da Anacom, no primeiro trimestre de 2000 existiam 4 milhões e 930 mil assinantes, com uma taxa de penetração do mercado de 48.7 por cento, um valor acima da média europeia mas abaixo de países como a Suécia e a Finlândia. Este crescimento eram inimaginável há anos, se tivermos em conta que no ano do lançamento do GSM (1991) apenas existiam 12 mil e 600 assinantes.

Apesar do lançamento da terceira geração de telemóveis, que irão utilizar o sistema UMTS, não compatível com o TDMA, o GSM ainda será durante anos o sistema dominante. Uma nova fase está a ser desenvolvida, os designados sistemas de segunda geração e meia, destinados a fazer a ponte entre as duas gerações, como o HSCSD (High Speed Circuit Switched Data), GPRS (General Packet Radio Service) e outros, destinados a aumentar a velocidade de transferência de dados do sistema GSM e que permitirão funções como o acesso à Internet, vídeo, e outros.