A Internet é pequena e os telemóveis já perceberam
- Telemoveis.com
- 07/12/2000
- Internet, Mobile, Tecnologia
Em 2010 já não haverá endereços disponíveis para atribuir aos internautas. A segunda geração e meia e a terceira de comunicações móveis exigem muitos mais. O Internet Protocol versão 6 é o passo seguinte. Se não, não vai haver telemóveis para ninguém.
Já pensou que, se calhar, a Internet não é um universo infinito? Então acertou. Apesar dos milhões de endereços disponíveis, eles existem em número limitado, e acabam em 2010. isto constitui um problema para as comunicações móveis, porque a terceira geração (3G) de telemóveis exige outros tantos milhões de endereços. A razão é simples: a 3G não existe sem Internet – é por lá que vai passar tudo. Por isso, são necessários muitíssimos mais endereços. O IPv4 é o protocolo que actualmente regula a Internet, mas que a constrange. O IPv6 é o protocolo que a pode salvar – e permitir o pleno funcionamento da 3G.
4,2 milhões de endereços é pouco
Os criadores da Internet certamente não se aperceberam do perigo, mas ultimamente muita gente consegue antevê-lo, quase como que um rumor entre os empregados de uma empresa: a Net das Nets está a chegar ao seu limite e arrisca-se a revelar-se pequena demais para todos os internautas que a usam diariamente. Afirmando isto desta maneira, parece uma catástrofe capaz de parar todo o mundo virtual, mas a realidade é um pouco diferente. O problema, contudo, existe mesmo.
O problema é que os endereços de Internet são limitados. Simplificando muito, pode-se explicar que a Internet baseia-se num protocolo chamado IP (Internet Protocol) que permite atribuir endereços numéricos a todos os computadores que estejam ligados. Com o crescimento exponencial dos internautas que navegam mais e mais nos inúmeros sites, vive-se o risco de que esses endereços podem esgotar muito depressa. Para perceber isto melhor, é preciso perder algum tempo em perceber como a Internet funciona hoje em dia.
O protocolo usado hoje em dia é o IP em versão 4, também chamado Ipv4. Baseia-se numa estrutura de 32 bits que tem a possibilidade de oferecer e atribuir qualquer coisa como (em teoria) 4,2 milhões de endereços numéricos diferentes. Certamente suficiente, supõe-se, para os 6 milhões de habitantes que existem no planeta. Cada vez que introduzimos um endereço de Internet (www.telemoveis.com, por exemplo), isto é traduzido para uma endereço numérico concordante com um esquema muito preciso. É uma espécie de combinação de quatro grupos de três dígitos separados por pontos que são atribuídos pelo Icann (Internet Comission for Assigned Names and Numbers), seguindo critérios de importância (quantidade de tráfico = necessidade). Estes endereços IP são públicos e exclusivos – é impossível haver dois iguais.
Para além dos endereços atribuídos num modo “estático” pelo Icann, também existem na Internet endereços “dinâmicos” que são usados várias vezes, periodicamente, por internautas diferentes no momento em que precisam de facto. Assim, isto permite optimizar o uso de endereços IP desde que, em média, haja endereços suficientes por cada conjunto de 20 utilizadores. É o caso de todas as ligações particulares, em que o fornecedor de acesso tenha à sua disposição uma série de endereços atribuídos aos internautas durante a ligação.
Por fim, uma porção desses endereços (cerca de 16 milhões) foi entregue para uso particular. Estão à disposição de toda a gente mas, por isso mesmo, não podem ser usados na Internet. É o caso dos endereços que são usados dentro de redes particulares e de empresas para identificar os computadores existentes dentro dessas mesmas redes. Por isso, esses endereços não são exclusivos.
Reflectindo sobre esta análise, conclui-se que, de vez em quando, a Internet vai ficando mais estreita, mas ainda é capaz de “aguentar” toda a gente. Ao fim e ao cabo, pelo menos para o cidadão comum, um endereço por cada utilizador ainda é suficiente, já para não contar com os utilizadores no círculo das redes que têm acesso à Internet através da intranet da empresa. Então, onde está a crise?
Muita gente olha para a Internet como um mundo feito de computadores. Mas, dado o modo de como a Internet está a desenvolver-se hoje em dia, num futuro não muito distante a rede estará presente em tudo que nos rodeia, desde as chaves da casa aos aparelhos eléctricos, do frigorífico às cortinas da sala, para não falar dos terminais móveis. A dúvida levanta-se quando perguntamos a nós próprios se a Internet, tal como existe hoje em dia, pode suportar esta enorme quantidade de informação que irá passar por ela. Será suficientemente seguro transmitir e guardar informação pessoal? Será flexível? A resposta a estas questões é que, pela sua estrutura, o IPv4 poderia revelar soluções insuficientes para lidar com as questões futuras.
Esta afirmação confirma-se pelo facto de que todas as futuras tecnologias de comunicações móveis serem baseadas no TCP/IP (Transmission Control Protocol/Internet Protocol, o grupo de protocolos de comunicação usados para ligar os visitantes à Internet. O TCP/IP usa vários protocolos, os mais importantes são o TCP e o IP. O TCP/IP faz parte do Sistema Operativo UNIX e é usado pela Internet, tornando-o o estandarte de facto para transmissão de dados em redes. Inclusive sistemas operativos de redes que possuem os seus próprios protocolos também suportam o TCP/IP.)
366 milhões de endereços já é melhor
O GRPS vai introduzir uma conectividade always on (sempre ligado) que irá limitar bastante o número de endereços recicláveis dentro da rede do fornecedor, potencialmente alcançando o nível de um endereço IP por cada dois utilizadores, e por isso multiplicando por dez a procura em horas de ponta. Mais: de acordo com as estimativas da EMO, o número de utilizadores de GSM/GPRS em Dezembro de 2002 será de 562 milhões, o que significará 282 milhões de endereços IP. E os utilizadores deverão chegar aos 733 milhões em 2004 (366 milhões de endereços IP).
E ainda não considerou-se a questão dos utilizadores tradicionais de Internet (PSTN/ISDN e DSL, por cabo) e a dos utilizadores empresariais, para além de que os endereços requeridos por outros sistemas de comunicação, entre os quais o UMTS, que será lançado em 2002. De acordo com os últimos dados, ainda estão disponíveis 530 milhões de endereços IP.
Claramente, quando a Internet foi criada há algumas décadas atrás, não era possível antever que o desenvolvimento da rede pudesse conduzir a estes problemas. A própria Internet adaptou-se, ao longo dos anos, às necessidades que encontrou na sua evolução, mas hoje o problema é que chegou-se mesmo ao limite da estrutura. E, de acordo com a opinião de muitas pessoas, este é o momento ideal para uma mudança radical.
IPv6, o salvador da pátria
A resposta ao problema é o IPv6. Se não for tomado em consideração o impacto da Internet móvel nos próximos anos, a Internet, tal como a conhecemos, poderá esgotar todos os endereços IP que ainda estão disponíveis em 2010. mas com o advento das tecnologias 3G e o boom esperado de utilizadores de Internet móvel, será preciso uma estrutura mais sólida e funcional, capaz de suportar todos os instrumentos que serão ligados à rede. O IPv6 baseia-se numa estrutura de 128 bites que, potencialmente, permite atribuir 340232,4 mil milhões de endereços IP – um número suficiente para poder atribuir endereços a todos os milímetros quadrados do planeta.
Mas para além de providenciar uma miríade de novos endereços, o IPv6 optimizará a eficiência da Internet, operando uma redução da escala das operações de routing (encaminhamento), tentando processar mais depressa os pacotes de informação graças a um protocolo mais simples, melhorando a segurança e a QoS (Quality of Service – qualidade de serviço) das transmissões em tempo real. O IPv6, por fim, simplifica a instalação de terminais numa tecnologia do género plug&play (“ligar e jogar”) e permite o reencaminhamento de chamadas nas redes de comunicações móveis sem necessidade de mudar o endereço do próprio dispositivo. Em termos simples, esta parece ser a solução perfeita.
Por certo que o IPv6 não poderá ser implementado sem custos, e isto explica a razão pela qual todos os interessados, que querem introduzir o que é consensualmente considerado como um passo inevitável, tomam tantas precauções. Quanto mais se esperar, mais dolorosa será a transição. O IPv6 tem as estruturas certas para ser mesmo o standard da nova Internet.