A Microsoft vai dizendo adeus aos telemóveis. Eis o que isso significa
A Microsoft anunciou que vai abandonar “progressivamente” o negócio dos telemóveis. Isto é o que tem de saber.
Imagem: Flickr/Lupbreton
“Progressivamente”. “De forma escalada”.
Estes foram termos usados por Terry Myerson, responsável pela divisão de Windows & Dispositivos da empresa, a propósito da decisão de empresa em despedir uma esmagadora parte da sua divisão de telemóveis.
Estas, bem como outras expressões usadas no comunicado interno da Microsoft, são formas não-tão-subtis-assim de quererem dizer que as coisas não estão a funcionar e que está na hora de “partir para outra”.
Os sinais estavam lá.
Na semana passada, por exemplo, a Microsoft esteve indiretamente envolvida no regresso da Nokia ao fabrico de telemóveis (a Microsoft, que detém os direitos de venda de telemóveis Nokia baratinhos, vai vendê-los a uma outra empresa finlandesa – mas eu explico melhor o sucedido aqui).
Também é notável o “progressivo” abandono da empresa do mercado dos smartphones desde que Satya Nadella, atual CEO, assumiu o cargo.
O que quer isto dizer?
A Microsoft não desistiu dos telemóveis; simplesmente mudou de abordagem.
Em vez de tentar convencer milhares de milhões de utilizadores de Android e iOS de que o Windows “é que é”, o que convenhamos ser uma proposta utópica, é mais fácil (e pragmático) a Microsoft mudar-se para essas plataformas e contactar diretamente os utilizadores.
Permita-me explicar: a estratégia da Microsoft tem sido software e serviços – que a empresa quer levar ao Android e iOS.
Levá-los para essas plataformas é mais fácil. É mais inteligente. É mais sensato.
Mas isto não é, necessariamente, a morte do Windows 10 Mobile.
A Microsoft vai continuar a licenciar o sistema operativo a fabricantes que queiram tentar a sua sorte.
Se bem que, com menos de 1% de quota de mercado, dificilmente isso torne o Windows 10 numa plataforma apelativa.
A Microsoft também reconhece haver potencial no mercado empresarial dos utilizadores de telemóveis e deu a entender que continuaria a trabalhar neste nicho.
Sublinho a expressão “deu a entender”, já que nesta fase do campeonato creio que é pouco realista esperar que a Microsoft se comprometa, a longo prazo, num mercado que está “progressivamente” a abandonar.
De facto, há rumores que sugerem que esta é mesmo a intenção da Microsoft.
Eu diria que este é um cenário bem provável, não só pelo contexto da empresa como também pelo histórico de “promessas flexíveis” que a empresa fez neste mercado.
A verdade é que não dá para competir com o Android ou o iOS sem um grau de compromisso exigente.
Não falo de um compromisso a 100%; refiro-me a um comprometimento de 1000%. E a Microsoft simplesmente não está empenhada nessa direção.
Foi uma decisão prática, sensata e – acima de tudo – realista.
É isto um adeus?
Sim e não.
Não o é por agora; mas tudo indica que é esta a intenção da empresa.
Aderir neste momento ao Windows 10 Mobile é, assim, estar a assumir uma relação onde a outra parte – a Microsoft – não está empenhada.
E todos sabemos o que isso quer dizer.