APDC / X Congresso : Sociedade da Informação para integrar cidadãos
- Telemoveis.com
- 07/11/2000
- Internet, Tecnologia
Lisboa, 07 nov (Lusa) – O Presidente da República, Jorge Sampaio, pediu hoje aos empresários portugueses que dediquem mais atenção às escolas, aproveitando mais tarde os dividendos provenientes da formação de quadros especializados nas novas tecnologias da informação. Segundo o Presidente da República, “apenas uma ínfima parte dos proventos conseguidos num ano de actividade” fariam a diferença para perceber as expectativas dos estudantes e solucionar a necessidade de quadros profissionais que nem só os ministérios, professores e famílias podem resolver. Jorge Sampaio falava durante a sessão de abertura do X Congresso da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações (APDC), que decorre entre hoje e quinta-feira, na antiga FIL, em Lisboa. O presidente da República falou de duas visitas que fez recentemente a escolas classificadas como “problemáticas”, exemplificando como a utilização dos computadores pode ser essencial na construção de turmas com currículos alternativos. Para o presidente da República, esta pode ser uma forma de integrar socialmente jovens que de outra forma não o seriam. “Existe um caminho a percorrer, um desafio, sobre como Portugal pode equipar-se para ser um país desenvolvido”, rematou, referindo-se ao quadro das novas mudanças que se avizinham. Na sessão de abertura estiveram também presentes o ministro da Ciência e da Tecnologia, José Mariano Gago, o presidente da APDC, Raul Junqueiro, o presidente do X Congresso de Comunicações, Aníbal Santos, e o embaixador do país convidado desta edição (França), Pierre Brochand. À semelhança das declarações de Jorge Sampaio, a questão dos recursos humanos qualificados em Portugal é também um problema crítico para o ministro da Ciência e da Tecnologia. Um das soluções para o problema passa pela formação profissional certificada de nível superior, possível através da criação de consórcios públicos e privados que recrutem alunos de forma diferente mas que recolham as vocações de diplomados ou outros que até tenham abandonado a escola, disse Mariano Gago. Para o ministro, é necessária uma “formação informática de emergência” que sirva para responder às necessidades das empresas mas também para integrar cidadãos, à partida excluídos, através de escolas e currículos alternativos. “A formação de técnicos informáticos pode associar-se ao combate contra a exclusão social que atinge grupos de cidadãos e sectores das escolas portuguesas”, explicou. “É necessário o reconhecimento da importância de uma aprendizagem fora das instituições tradicionais, pelo que a criação de formação informal é urgente”, disse, salientando o papel que a certificação dessa formação terá para posterior utilização social ou profissional. Mariano Gago apelou também ao aproveitamento das capacidades dos emigrantes residentes no país, criando condições para que estes tenham uma formação escolar apropriada. Todas estas medidas são, para o ministro, essenciais para a concretização da massificação do acesso às novas tecnologias de informação, que actualmente se constituem como imperativos do ponto de vista social e económico. Para Mariano Gago, avizinham-se em Portugal “grandes oportunidades como são a terceira geração de telemóveis, o sistema ADSL e a televisão digital terrestre e a concorrência entre todos os operadores sobre estes sistemas”. É, no entanto, necessário ter em conta “a baixa taxa de utilização de algumas infra-estruturas instaladas”, continuou. Neste sentido, o ministro realçou o papel dos conteúdos que “devem sempre corresponder a uma criação artística, cultural e científica, sem cair no facilitismo e na reciclagem de serviços e ofertas já existentes”. O ministro apelou a uma transposição da secular Lei das Sesmarias de forma a salvaguardar o interesse público, sublinhando que o desenvolvimento da Sociedade da Informação e do Conhecimento em rede pode dar oportunidades a todos e integrar todos porque, disse, “todos não seremos demais”. “A apropriação social das tecnologias da informação deve, assim, ser uma arma poderosa para a construção de sociedades mais democráticas, livres e participadas, lutando contra a ignorância, a iliteracia e a ineficiência das instituições”, afirmou. “Os excluídos têm tudo a ganhar ou a perder dependendo da política que se seguir”, concluiu. Na sua intervenção, o presidente da APDC, Raul Junqueiro, realçou a importância das discussões em torno de um sector (Comunicações e Tecnologias) que regista um dinamismo evidenciado por diversos indicadores. “O volume de negócios das empresas de telecomunicações, (operadores, prestadores de serviços e indústria), será de 1,5 mil milhões de contos até ao final de 2000”, disse, acrescentando que o das empresas de tecnologias de informação se deverá situar em 340 milhões de contos, a que se pode juntar cerca de 120 milhões de contos dos correios. Desta forma, o sector das comunicações e das tecnologias da informação, com um volume de negócios total estimado de mais de 1,9 mil milhões de contos, vai representar em 2000 cerca de 8,3 por cento do PIB português, rematou. O tema do X Congresso das Comunicações, “A Concorrência e a Economia Digital”, visa, segundo os organizadores, sublinhar a fase de transição que se vive em Portugal para este novo tipo de sociedade, além de salientar o facto de ser este o primeiro ano de liberalização total no sector das telecomunicações.»