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Que técnicas usam os jogos viciantes para o manipular?

As 3 principais técnicas de manipulação dos jogos mais viciantes para smartphone.   A resposta está na sua capacidade para prender o jogador e assegurar que este vai voltar para outra partida. Um desses truques é estimular os mecanismos de recompensa do cérebro. Num jogo, quando passa para o nível seguinte e é recompensado com pontos […]

As 3 principais técnicas de manipulação dos jogos mais viciantes para smartphone.

 

A resposta está na sua capacidade para prender o jogador e assegurar que este vai voltar para outra partida. Um desses truques é estimular os mecanismos de recompensa do cérebro. Num jogo, quando passa para o nível seguinte e é recompensado com pontos adicionais, o cérebro reage produzindo dopamina, um neurotransmissor com funções ligadas à aprendizagem, memória e, mais importante neste caso, a recompensas agradáveis. Por outras palavras, é um neurotransmissor que o deixa feliz; para que a sensação continue, deve continuar a jogar. Esta sensação prazerosa, contudo, é de curta duração.

É apenas uma questão de tempo até o seu cérebro deixar de reagir da mesma forma. Os especialistas chamam a este reajuste de “adaptação hedónica” – ocorre quando compramos uma casa nova, mas habituamo-nos a ela, ou quando nos cansamos de uma música, mesmo que seja fantástica. A adaptação hedónica significa que até as coisas mais fantásticas se tornam rotineiras. Faz parte do mecanismo de adaptação do ser humano a mudanças (boas ou más) no seu ambiente. É uma forma de manter níveis de felicidade regulados.

Para tirarem partido desta condição, alguns jogos escolhem limitar a dosagem do utilizador. Por exemplo: no Candy Crush, depois do jogador perder cinco vezes, surge um cronómetro em contagem decrescente; enquanto a contagem não chega ao fim, o jogador não pode continuar a alimentar o seu vício. Tem, assim, que esperar até à próxima partida. Essa limitação vai estimular a sua ânsia, resultando em maior prazer quando volta a jogar.

Este último truque funciona muito bem porque se baseia na famosa premissa da “falácia do apostador”, que define uma pessoa que acredita poder inverter o rumo do jogo se tiver só mais uma oportunidade. É a crença nesta capacidade definitiva de resolução que mantém o jogador viciado – quanto melhor um jogo gerir esta expectativa, mais tempo um jogador se mantém colado.

Quando entre 2013 e 2014 o Flappy Bird se tornou num fenómeno, foi precisamente no pico da sua popularidade que o criador decidiu retirá-lo das lojas de aplicações. O timing não poderia ter sido mais oportuno – o ‘pânico’ causado serviu para alimentar ainda mais o desejo de experimentar jogá-lo. O interessante é que não é obrigatório depender da combinação destes três elementos para se ser bem sucedido. 

Um exemplo de sucesso que rentabiliza exclusivamente a “falácia do apostador” é o Trick Shot (no vídeo acima). À semelhança do jogo Angry Birds, aumenta progressivamente o seu nível de dificuldade; quando o jogador arrasta a linha para definir o ângulo de lançamento da bola, convence-se de que a vitória está puramente dependente da sua própria habilidade, excluindo assim a componente ‘sorte’ da equação. O resultado é um utilizador imediatamente viciado e mais susceptível de acreditar na “falácia do apostador”.