As tecnologias matam a criatividade, mas também a podem salvar
Face a isto, os peritos recomendam mais intervenção por parte dos pais.
*Está a ler um guest post da Mind-shaker.com
Em 2014, durante uma entrevista ao The New York Times, Steve Jobs admitiu não deixar os filhos usar o iPad. A resposta surpreendeu Nick Bilton, o entrevistador, que ficou surpreso por descobrir que a vida pessoal do falecido co-fundador da Apple era, na verdade, muito pouco tecnológica.
A abordagem de Jobs não foi única. Chris Anderson, antigo editor da Wired, faz o mesmo. Assim como Pierre Laurent, ex-director de marketing da Microsoft. E a lista continua.
A ideia de que as tecnologias influenciam negativamente as crianças não é nova. De facto, já no início do século XX a sociedade se preocupava com isto. E as conclusões são invariavelmente as mesmas: as tecnologias podem influenciar negativamente as crianças.
“Inicialmente a pesquisa das antigas ‘novas’ tecnologias – cinema, rádio e televisão – focou-se no tempo que as crianças gastavam a usar o novo meio, seguida de avaliações sobre como o novo meio afectava o seu conhecimento sobre o mundo, atitudes, valores e conduta moral”, explicam as co-autoras do estudo “Children and Computers: New Technology – Old Concerns“, Ellen A. Wartella e Nancy Jennings, publicado em 2000.
“Na maioria dos casos, a sociedade confiou aos pais a tarefa de salvaguardar as crianças dos efeitos potencialmente negativos dos meios de comunicação.”
Um estudo de 2010 examinou mais de 300 mil testes de criatividade (até 1970) e descobriu que as crianças tornaram-se menos bem humoradas, menos imaginativas e menos capazes de gerar ideias únicas.
Isto pode ser problemático. A criatividade, em particular o pensamento crítico, é uma das competências mais valorizadas nos profissionais do século XXI.
Os peritos defendem o desenvolvimento da imaginação para as crianças lidarem melhor com um futuro imprevisível. Embora seja uma qualidade inata ao ser humano, deve ser cultivada para se tornar útil.
Nichole Polifka, directora de aprendizagem do Museu das Crianças, no Minnesota (EUA), acredita que este declínio aconteça por se substituir mais a imaginação e a brincadeira por tecnologia.
Nas palavras de Christine Carter, investigadora da Universidade da Califórnia, “a capacidade de manter a concentração é o superpoder do século XXI”. Um cérebro habituado a estímulos constantes não consegue fazer trabalho aprofundado. “Pode escrever um tweet, não consegue escrever um livro”.
O problema não está limitado ao excesso de estímulos. A falta de tempo para brincar, ou para comportamentos que estimulem o pensamento criativo, é outro dos factores apontados pelos peritos para justificar este declínio de criatividade.
Ter tempo para coisas tão simples como sonhar acordado, olhar para o vazio ou estar apenas entediado também são factores em consideração. Estes são momentos valiosos para desenvolver a criatividade e imaginação.
O comediante norte-americano Louis C. K. tem um vídeo popular onde aborda este tema de forma cómica:
A tecnologia, contudo, também pode ser usada para potenciar a criatividade. Os peritos defendem que tudo depende da forma como um dispositivo é usado.
Quando uma criança está ‘presa’ ao telemóvel, está a perder tempo livre que poderia ser usado para cultivar a imaginação; mas pela mesma razão, a tecnologia abre um vasto mundo de informação que também pode proporcionar avanços criativos.
Face a isto, os peritos recomendam mais intervenção por parte dos pais. Em vez de deixar uma criança vaguear pelo mundo online, sugerem um uso mais objectivo das tecnologias (com intenções específicas, como potenciar a criatividade).
Não nos podemos ver livres dos ecrãs, mas podemos tirar partido deles vendo-os como uma oportunidade. Os media digitais são ferramentas com capacidade para prestar suporte ao processo criativo, mas deve existir um balanço e um objectivo.
Cabe aos pais assegurarem que os filhos usam essas ferramentas em prol da criatividade, ao invés de a reduzirem.