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A Cicret Bracelet é real?

A Cicret Bracelet é real – verdade ou mentira?

 

Cicret Bracelet é realJá se ouve falar na Cicret Bracelet desde 2014. Tudo começou em vídeo, conceptual apenas, sobre uma pulseira que projecta o ecrã de um smartphone na pele do utilizador. O ecrã é interactivo, como um touchscreen convencional, mas opera no braço do utilizador. É fácil perceber o porquê de ter despertado tanto interesse.

Mas em 2017 pouco parece ter mudado. O interesse pela Cicret Bracelet permanece, em 2016 até teve direito a um ressurgimento, mas ainda não há produto verificável, nem novidades palpáveis, nem certezas de corresponder ao que foi prometido.

A contestação à legitimidade da Cicret Bracelet registou um pico em Setembro de 2016, quando o youtuber Captain Disillusion – especializado em desfazer mitos – publicou um vídeo onde expõe dúvidas, devidamente fundamentadas, sobre a credibilidade do projecto. O vídeo soma actualmente mais de 700 milhões de visualizações.

 

Basta uma breve pesquisa na Google para percebermos que a Cicret Bracelet ainda gera interesse, mas a falta de informação disponível levanta sérias dúvidas sobre a sua legitimidade. Uma excepção parece ser o site Htxt.africa, que em Setembro do ano passado publicou uma entrevista a um dos fundadores do projecto, onde este mesmo assunto foi abordado.

“Eu consigo perceber a dúvida e a confusão [com a campanha de crowdfunding]”, explicou o fundador da Cicret Bracelet, Guillaume Pommier. “Em termos de investidores, temos hoje muitas pessoas interessadas. [Também] sou um negociador com quem é muito difícil lidar, e tive de recusar algumas ofertas”.

Na entrevista Pommier admite ter fechado um acordo,  “quero com isso dizer que o dinheiro chega à minha conta”, mas que a equipa não tem outras fontes de rendimento. “É por isso que estou a investir no crowdfunding”.

O crowdfunding é uma alternativa para angariar fundos para continuar o desenvolvimento da Cicret Bracelet. “Temos centenas de pessoas que investiram dinheiro para nos ajudar, se parássemos perderiam o dinheiro”.

A campanha de crowdfunding foi entretanto encerrada. No site da Cicret, a empresa diz que ultrapassou a meta de financiamento (o objectivo era angariar 500 mil dólares) e que as pré-encomendas vão começar no início de 2017.

 

O video original (em cima), com mais de 20 milhões de visualizações, também foi abordado. Pommier reconhece que existem erros técnicos que não foram revistos, em parte porque o vídeo é eficaz na demonstração do conceito do produto, mas também por se tratar de um vídeo conceptual.

“Primeiro que tudo, acho que todos percebem que é um vídeo conceptual, eu nem sequer lhe chamaria um protótipo – é mais uma maquete. Foi algo que desenhámos para perceber se tinha bom aspecto”.

Mas aparentemente não, nem todos perceberam que se tratava de um vídeo conceptual, nem tampouco a Cicret fez por esclarecer isso no vídeo, nem na sua descrição. De facto, a Cicret Bracelet é divulgada sem nenhuma indicação de se tratar de um produto conceptual.

Nada disto significa que a equipa da Cicret Bracelet não esteja mesmo a desenvolver um produto, mas olhando para o histórico de adiamentos, falta de transparência, inexistência de feedback externo sobre os protótipos e ausência de informações verificáveis, é fácil criar a ideia de que, provavelmente, a Cicret Bracelet não vai ser como nos disseram que seria. Os comentários desactivados (em todos os vídeos) reforçam a ideia de que há falta de vontade da empresa em ouvir as preocupações dos seus potenciais futuros clientes.

No site oficial, a empresa diz estar pronta para produzir a pulseira, e que se encontra a trabalhar com duas firmas norte-americanas especializadas em design. As firmas não são identificadas, da mesma forma que não são avançadas datas concretas de lançamento.

As redes sociais do projecto também não são actualizadas desde o verão de 2016 (o Facebook foi actualizado pela última vez em Julho; o Twitter em Agosto).

 

O interessante é que talvez venha mesmo a existir um produto chamado Cicret Bracelet, mas as probabilidades de corresponder ao vídeo publicado em 2014 parecem ser cada vez mais reduzidas. Ainda assim, é notável que vários sites (Telemoveis.com incluído) deram inicialmente cobertura ao projecto. Isto mostra que ainda é com relativa facilidade que a perspectiva crítica se deixa domesticar pelo encanto de uma tecnologia potencialmente revolucionária, tão incrível que provavelmente é demasiado boa para ser verdade. Afinal, que razões teria um produtor de conteúdo para duvidar da boa vontade dos empreendedores?