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Como fez a Xiaomi para bater a Apple e a Samsung na China

Segundo Howard Yu, o modelo de negócio pouco convencional para os padrões chineses permitiu à empresa quebrar barreiras

*Howard Yu é professor de Inovação e Gestão Estratégica na IMD Business School

A Xiaomi, sediada em Beijing, ainda não é uma empresa particularmente popular no Ocidente, mas já começa a tornar-se num nome conhecido. Na semana passada a gigante chinesa foi bem-sucedida em angariar 1.5 mil milhões de dólares através de investidores, o que ’empurrou’ a empresa para uma impressionante avaliação de 40 mil milhões de dólares.

[relacionadas_esquerda]Em termos puramente comparativos, este é um valor superior à Sony e à Lenovojuntas – e representa uma quota de mercado maior que a da Apple e da Samsung em território chinês. No mundo a Xiaomi chegou mesmo à terceira posição global.

Este crescimento, explica Yu, deve-se ao modelo pouco convencional que a empresa utilizou para crescer – um modelo que, se facto, é bastante inspirado em tecnológicas presentes em Silicon Valley. Este mesmo modelo permitiu à Xiaomi, em apenas 4 anos, tornar-se numa gigante dentro do mercado das telecomunicações, tanto na China como no resto do mundo.

Um aspecto que caracteriza as empresas chinesas é o do rescimento “em casa” – várias empresas chinesas adoptam a estratégia de crescerem primeiro dentro do seu mercado-natal antes de passarem a operar noutros países. Yu explica que isto é possível graças aos custos de produção baixos – que por conseguinte são conseguidos devido à produção em larga escala que as empresas chinesas conseguem obter. Nomes melhor estabelecidos como a Huawei e a Lenovo seguiram este modelo no passado.

Mas não a Xiaomi. A empresa não tem quaisquer fábricas para montar os seus aparelhos. De facto, a Xiaomi recorre ao modelo de outsourcing para montar os seus produtos no Taiwan. A empresa também não conta com “batalhões de engenheiros de software” ao seu dispor.

A Xiaomi apenas vende os seus produtos online, através do seu próprio website, e os seus telefones não se encontram disponíveis em lojas físicas nem em operadores de telecomunicações – ao eliminar os intermediários, a Xiaomi consegue baixar os custos e apresentar preços mais competitivos aos consumidores.

 

UTILIZADORES EM PRIMEIRO LUGAR

São os utilizadores o verdadeiro motor da Xiaomi, e por conseguinte do desenvolvimento dos seus produtos. A própria interface da empresa – MIUI – encontra-se aberta à personalização dos utilizadores, que contribuem igualmente no acréscimo de novas funcionalidades ao software da empresa.

Comparativamente à Apple, que só lança uma nova versão do iOS de 18 em 18 meses, a Xiaomi actualiza a sua interface semanalmente. Foi a própria rede de fãs da empresa chinesa quem contribuiu para traduzir a versão original do seu software para 24 línguas diferentes, o que de um alcance de novos mercados à empresa. E isto não envolveu quaisquer custos de investigação ou desenvolvimento para a Xiaomi.

“Esta configuração permitiu à Xiaomi obter lucros desproporcionais mesmo que um modelo [de smartphone] comparável, da Samsung, custasse pelo menos o dobro”, avança Yu. “Segundo o Wall Street Journal, o lucro líquido da Xiaomi subiu 84% em 2013, para 3.46 mil milhões de yuan [equivalente a pouco mais de 565 milhões de dólares], comparativamente aos 1.88 mil milhões de yuan registados em 2012”.

Os pontos fortes da empresa, refere, estiveram na sua inovação “aberta”, na construção de uma forte e envolvida comunidade de utilizadores e no esforço contínuo de diferentes serviços móveis para monetizar os seus equipamentos. Yu faz ainda referência a uma pequena curiosidade – Xiaomi, em chinês, significa qualquer coisa como “arroz pequeno”, algo que nos dias que correm está muito longe de corresponder à verdade.