Usar o telemóvel ou o computador para registar informação pode comprometer a sua memória das mesmas.
Se o leitor me permitir a confissão, ficará desde já a saber que eu sou talvez a pessoa mais paranóica do mundo em relação a tirar notas.
Anoto coisas todos os dias, por todos os motivos, em todas as plataformas que tenho à minha disposição. Isto inclui um computador desktop, um smartphone (com mais do que uma aplicação para tal) e o bom velho bloco de notas de papel.
Eu sou o tipo de pessoa que envia e-mails a si próprio com links ou anotações de interesse para garantir que não perco aquela informação. Além disso também tinha o hábito de enviar SMS’s a mim mesmo com informações que não me poderia permitir esquecer – isto, claro, antes do tráfego de dados móveis se ter tornado mais acessível.
À luz destas confissões, nunca abdiquei do velhinho bloco de notas e da antiquada esferográfica. E hoje sinto que talvez tenha sido pelo melhor.
Recentemente deparei-me com um estudo, publicado na Psychological Science, que conclui que a escrita digital pode, de facto, estar a ‘estragar‘ a nossa capacidade de nos recordarmos de informações importantes. Isto não significa, contudo, que a escrita digital não traga os seus benefícios – tudo depende da nossa consciência e necessidade para tipos específicos de informação.
Escrita digital vs Escrita tradicional
A vantagem da escrita tradicional face à escrita tradional, concluiu esse estudo, está no facto de nos permitir guardar informação na memória com mais facilidade. Isto não acontece no digital, pelo menos não do mesmo modo.
Pam Mueller, investigadora da Universidade de Princeton e também a principal autora do estudo, começou a aperceber-se disto ainda durante os seus tempos de professora-assistente. Mueller tinha por hábito tirar notas com o seu computador portátil, mas no dia em que se esqueceu do PC viu-se obrigada a recorrer ao método tradicional. Este pequeno acontecimento motivou-a a realizar três estudos diferentes sobre a influência que as diferentes formas de registar notas têm na memória.
No primeiro teste, Mueller pediu a dois grupos de estudantes que tirassem notas de uma TED Talk – metade de cada grupo utilizou um computador portátil, enquanto que a outra metade utilizou um bloco de notas e uma esferográfica.
Cada grupo foi testado em relação aos conteúdos das sessões, e ambos tiveram um bom desempenho em questões relativas a factos. O grupo que utilizou a caneta/bloco de notas, contudo, obteve um desempenho significativamente melhor em questões conceptuais.
Porquê?
Segundo a investigadora, os estudantes que utilizaram um laptop limitaram-se a transcrever a sessão. A explicação faz sentido, porque num computador portátil conseguimos escrever com muito mais rapidez do que com uma esferográfica normal. Em contrapartida, utilizar o método mais rudimentar significa que temos que ser mais selectivos com a informação que guardamos nas notas.
O aspecto mais interessante das conclusões da investigadora está no facto de que os estudantes com o laptop não conseguiram evitar transcrever notas específicas relativas à sessão. A técnica, sugere, está « entranhada ».
Quando Mueller decidiu testar cada grupo em relação às notas registadas, descobriu que os estudantes que anotaram a informação com recurso a caneta e papel obtiveram um desempenho superior – mesmo que os estudantes com laptops tenham sido bem-sucedidos em registar um maior número de conteúdos. Ou seja: o processamento da informação não foi igual.
O melhor método
A conclusão em relação ao melhor método está dependente da nossa necessidade de informação. Se for essencial compreender mais aprofundadamente uma determinada informação, então tirar notas à mão continua a ser o método mais eficaz de aprendizagem (e memorização).
Mas existem casos – e eu aqui sou culpado, pois por vezes adopto o mesmo método no meu trabalho – em que um laptop nos permite registar um maior número de informações, que teremos que revisitar mais tarde. Neste caso acaba por ser o método mais eficiente (e nada nos impede de resumir estas informações à mão, com maior detalhe). Isto é especialmente importante em situações onde precisemos de informações mais detalhadas e completas, ou mesmo em alturas onde tenhamos que citar alguém à letra.
Isto aplica-se não apenas em computadores, mas em todas as plataformas onde tenhamos que digitar informação – o que inclui tablets e telemóveis, por exemplo.
A minha sugestão, contudo, passa por tentar conciliar o melhor dos dois mundos sempre que possível – um tablet e uma stylus poderão ser a solução ideal.