Entrevista com António Aleixo
- Alexandre Talhinhas
- 08/04/2003
- Mobile, Samsung, Tecnologia
O Telemoveis.com esteve à conversa com o Director da Unidade de Negócios GSM da Samsung Portugal, onde se falou, entre outros assuntos, de terceira geração, CeBIT e claro… Matrix!
Em 2002 a Samsung registou quota de mercado de 11 %…
A nível global. Certo, certo foi 9,8 % segundo pela Dataquest, segundo os nossos dados e segundo diversas fontes esse valor rondou os 11 %, mas pela Dataquest foi de 9,8, a nível de repartições.
Era esse o objectivo da Samsung para 2002?
Sim. Aliás, esse foi superado, mas o principal objectivo era consolidar a terceira posição. Neste momento é claro que a Samsung está efectivamente distanciada do grupo que se segue a nível global.
(Nuno Parreira, product manager para a áerea de comunicações da Samsung, junta-se à conversa): Até dizem, nas apresentações que fizemos na CeBIT, que estão à espera de saber quando é que a Samsung chega ao segundo lugar. Pelo menos é o que todos os experts afirmam.
Como correu a CeBIT?
Eu penso que a CeBIT é interessante para as diversas entidades que lá estão para digamos, mostrar. Ao fim ao cabo é uma montra institucional. De qualquer maneira, em termos de valor acrescentado para as marcas pouco há, aliás, isso notou-se muito com a diminuição dos expositores… notava-se os corredores mais largos. Muito menos expositores e muito menos visitantes, sobretudo dos particulares.
Em relação a 2003, quais são os objectivos da Samsung para o mercado português?
Nós infelizmente, até agora, não conseguimos traduzir no mercado português o que se passa no mercado global, ou seja, estar no chamado trio da frente. Um dos grandes objectivos é realmente esse, conseguir até ao final do corrente ano ser claramente uma marca que está entre os três grandes.
O segundo objectivo é consolidar a imagem de marca, já que Samsung aqui há uns anos atrás era vista como uma marca de segunda. Cada vez mais, e pelos estudos que temos a nível global, o valor da Samsung tem subido, daí que vamos tentar que sejamos considerados uma marca de topo, cujo reconhecimento seja grande.
E obviamente, o terceiro objectivo é aumentar a nossa presença nos pontos de venda, que realmente é bastante importante, sobretudo nas lojas de especialidade das telecomunicações.
Ao nível de estratégia comercial, a Samsung vai apostar mais nos acordos com as operadoras ou no comércio directo com os retalhistas?
Há uma realidade no mercado português que não há que escamotear. No ano passado, cerca de quase de noventa por cento das vendas deu-se pelo canal operador. Um fabricante que se esqueça que neste mercado português vai ter de trabalhar com os operadores, vai ter de viver com os restantes dez por cento… é uma questão de estratégia, de política. Nós não, obviamente se queremos estar no trio da frente não podemos optar por essa via. Temos uma estratégia delineada para agradar aos nossos operadores, e ter produtos para eles, mas também não nos vamos esquecer do mercado livre, que nós acreditamos que vá crescer, não este ano, mas vai crescer. Há que também ganhar bases nesse mercado, e estamos neste momento a actuar directamente junto das maiores cadeias de retalho de telecomunicações, e com alguns dos distribuidores mais importantes. É uma actuação a dois tempos: um para os operadores, outro para o mercado livre, obviamente com estratégias diferentes.
Que quota pretende atingir este ano em Portugal?
Neste momento eu não arriscaria quotas, e por uma razão muito simples. Enquanto que até há um ano atrás o mercado poderia ser mais ou menos previsível, havia uma tendência, este ano penso que todos os participantes do mercado estão um pouco sem saber o que hão-de dizer, por razões várias: porque o mercado atingiu uma dimensão… não diria de saturação… mas de proximidade do limite possível de subscritores “humanos”, pela realidade económica do país, que mal ou bem os índices de confiança dos consumidores estão muito baixos, dos mais baixos da Europa, e a guerra no Médio Oriente, tudo isto são factores de instabilidade… as taxas de desemprego, as pessoas estão receosas… o que se nota neste momento é um aumento das vendas de acessórios, ou seja, estão a comprar mais uma bateria para aguentar o telefone, em vez de comprarem um novo. Não querendo arriscar números, o que sabemos é que o nosso objectivo qualitativo é estar no trio da frente, mas o mercado este não vai ser fácil, inclusivamente para os líderes.
Que peso vai ter a terceira geração nos objectivos da empresa para este ano, nomeadamente em termos da apresentação modelos?
A terceira geração, na nossa opinião, continua em compasso de espera. Nós vamos ter alguns produtos que vamos lançar durante o segundo semestre deste ano…
Um terminal de 3G?
Sim, que já foram apresentados na CeBIT, em demonstração. De qualquer forma, o peso que a terceira geração terá no mercado português será praticamente nulo. Mas gostaria de referir algo de positivo que se está a passar no mercado: a mudança de mentalidade das pessoas, ou seja, as pessoas a partir do final do ano passado começaram a esquecer-se de segunda geração, segunda geração e meia e 3G, e começaram a focar mais no que podem retirar dos produtos, o acesso a serviços, e inclusive os novos hábitos que esses produtos criam… tirar fotografias, enviá-las… e isso é positivo…
Na primeira entrevista que concedeu ao Telemoveis.com, publicada em 15-03-2002, afirmou, e passo a citar: “O UMTS aparece e vai permitir streaming de vídeo e por aí fora, sem dúvida. Agora vamos ver quem é que está nos tempos mais próximos interessado nisso e disposto a pagar.”
Ainda tem a mesma opinião?
Tenho. Esse é outro dos factores que continua a não estar claro. Em termos de MMS, se repararem bem na estratégia dos operadores, já começam a ter uma estratégia mais semelhante àquela que foi utilizada para o SMS, ou seja, a oferecer tantos MMS’s. Mas isso só não chega…
Até porque o MMS não está a “pegar” como se calhar os operadores esperariam…
Exactamente. Há que avaliar se os novos hábitos de utilização estão para aí virados, e se o utilizador está disposto a pagar. 85 por cento do nosso mercado adquire telemóveis abaixo dos 200 euros, e 50 por cento abaixo dos 100 euros. Isto é a fotografia do nosso mercado, tipicamente um mercado de voz. Quando estamos a falar de MMS, a 45 cêntimos cada um… manda um, dois, e a partir daí começa a ser muito complicado. As pessoas ainda não estão muito preparadas para pagar seja aquilo que for, porque o preço do Kbyte, apesar de ser barato, torna-se caro se descarregarmos um vídeo ou uma web page, porque são vários Kbytes.
Acha que o atraso da 3G se deve maioritariamente a que factores?
Deve-se precisamente ao desenrolar do mercado. Há aqui várias componentes, e infelizmente eu acho que se entrou numa guerra de palavras entre fabricantes de terminais, fabricantes de infra-estruturas, operadores, uns a dizer que os outros é que têm a culpa. Se espremermos bem… eu acho que, como tudo na vida, em vez de se atribuir culpas devia-se trabalhar em conjunto para encontrar soluções para as coisas começarem a funcionar. E realmente um dos principais é o utilizador final… a terceira geração faz sentido quando houverem serviços e existam pessoas que os vão utilizar e que estejam dispostas a pagar. Chegámos à conclusão… aliás, andávamos todos a pensar que o mercado era aquilo que nós queremos, e regíamo-lo por aquilo que nós, profissionais da área, usamos e pensamos que funciona, e o mercado que está lá fora é diferente. Chegou-se à conclusão que as coisas vão demorar um bocadinho mais, e as diversas entidades do mercado tiveram que refazer as suas estratégias para que as coisas comecem a vir mais a tempo.
No mês passado a Samsung adquiriu cinco por cento da Symbian. Tratou-se apenas de um bom negócio ou podemos vislumbrar a adopção deste sistema operativo para os terminais Samsung?
Não, não… aliás, ainda bem que faz essa pergunta porque existe uma certa confusão no público em geral, que interpretaram a compra de cinco por cento da Symbian como uma adopção deste sistema em detrimento dos outros sistemas operativos, nomeadamente o da Microsoft e da Palm. O que passa é que a Samsung investiu na Symbian porque acha que é realmente um dos sistemas operativos que tem futuro, mas também para ficar na posse de algum know-how e de alguns interesses nesta empresa. De resto, a Samsung está neste momento a desenvolver produtos, na gama dos Smartphones, que funcionam nos três sistemas operativos: Palm, Microsoft e Symbian, isto para termos uma maior abrangência de mercado
Como afirmou, a Samsung lançou recentemente uma série de Smartphones, um em cada sistema operativo Microsoft, Palm, Symbian. Esta medida têm a ver com uma tentativa do fabricante em ter opções para todos os mercados?
Como eu lhe disse, os mercados americano, europeu e asiático são diferentes entre si. Com estes três sistemas operativos nós estamos a posicionar-nos como um dos fornecedores que pode estar realmente em todos os mercados.
Na primeira entrevista que concedeu ao Telemoveis.com exercia as funções de National Manager da Sony Ericsson. Hoje é entrevistado na condição de Director da Unidade de negócios GSM da Samsung Portugal. O que o levou a “mudar de camisola”?
Como é do conhecimento geral, a Sony Ericsson passou por algumas consequências derivadas da fusão, e uma delas foi uma reestruturação total a nível das suas actividades quer a nível europeu, quer a nível local. Outra foi a redução drástica a nível dos seus recursos humanos, da qual eu infelizmente tive que tomar parte, e digo infelizmente pelas consequências sociais que eventualmente teve. Por exemplo, ao nível da Ericsson, num espaço de ano e meio, tive que prescindir de vinte e cinco das trinta pessoas que trabalhavam comigo. Quando houve o merge efectivo, no dia 1 de Outubro de 2001, a estrutura local da Sony Ericsson passou a ser também englobada numa estrutura Ibérica. Em relação a mim começou a haver um certo desconforto, tanto profissional como pessoal porque… digamos que as minhas funções ficaram esvaziadas, ou seja, tanto a nível de responsabilidades como a nível de execução de funções, elas passaram a ser executadas pelo meu colega espanhol, em quem a Sony Ericsson a nível central preferiu optar em vez de mim. Eu saí da empresa de um modo perfeitamente pacífico, sem grandes problemas, onde eu felizmente deixei muitos amigos. Foi essencialmente uma “mudança de camisola” ao nível de conforto pessoal e profissional.
A Samsung e a Warner Bros. Consumer Produtos firmaram um acordo global com a Warner Bros. Pictures e a Village Roadshow Pictures para o franchising dos filmes Matrix, a estrear em 2003. Entretanto surgiu uma notícia que afirma que o telefone Samsung a ser utilizado no próximo filme da série vai ser comercializado nos Estados Unidos. Confirma-se? E Portugal?
No filme, segundo me parece, vão ser utilizados alguns produtos Samsung, inclusive monitores, telefones etc. De facto foi desenvolvido um telefone especial para ser utilizado no filme, que estava em demonstração na CeBIT, e que funciona apenas na tecnologia CDMA, e não GSM, daí que só esteja disponível para os Estados Unidos. Os países europeus propuseram também o desenvolvimento desse produto, mas foi achado centralmente que não era economicamente viável, nem sequer em termos de retorno ao nível de comunicação. Nós vamos ter cá algumas unidades para mostrar, para demonstração, mas será unicamente de menus, nada mais. O produto bandeira que vamos utilizar na campanha do Matrix, a nível dos telefones móveis, vai ser o SGH-V200.
Como é que a Samsung vê as telecomunicações daqui a, por exemplo, cinquenta anos?
Eu sei lá…
(Nuno Parreira intervém): A Samsung a liderar… (risos)
Se calhar as comunicações entre as pessoas vão ser provavelmente muito diferente do que aquilo que são hoje em dia. Aqui há cinquenta anos nem todas as pessoas tinham telefone, agora quase todos têm telemóvel que pode falar, tirar fotografias, enviá-las. A história o diz: A evolução tende a ser exponencial, e vai estar um pouco dependente do que acontecer a nível social. É uma evolução sem limites. Uma coisa vai continuar a acontecer, a necessidade das pessoas comunicarem umas com as outras.