Ericsson R290 para a Globalstar
Concebido pela Ericsson para servir a rede Globalstar de comunicações por satélite, o R290 é um modelo «dual band» – ou, mais propriamente: «dual mode» – de uma estripe particular: pode funcionar simultaneamente em roaming nas redes GSM 900 ou, via satélite, recorrendo à rede Globalstar de 48 satélites em órbita baixa, capazes de garantir cobertura em localizações onde as redes convencionais não chegam.
Os telefones Globalstar são disponibilizados numa de duas modalidades de subscrição: em mono-modo, em que o utilizador apenas pode efectuar chamadas pela rede Globalstar – o que constitui um sub-aproveitamento das capacidades GSM dos terminais e um gesto de irracionalidade económica na medida em que sai mais caro efectuar as chamadas pelo tarifário Globalstar. É por isso que, na prática, a opção Multi-modo é aquela que conhece maior adesão.
O duplo modo (GSM + Globalstar)é assegurado pelos parceiros regionais – normalmente operadores das redes GSM eles próprios, limitam-se a disponibilizar cartões que garantem a cobertura e o roaming GSM nas mesmas condições de assinatura que já oferecem aos seus demais subscritores com funcionalidade adicional da cobertura Globalstar.
A rede Globalstar atinge cerca de 75% da massa terrestre do globo e parte dos oceanos, até 200 milhas náuticas dos países cobertos, no Atlântico Norte, Caraíbas, Mediterrâneo e Mar do Japão.
A Globalstar disponibiliza na Europa dois modelos: o Ericsson R290, testado pelo Telemoveis.com e o Telit Sat 550. Em Portugal, em particular, a empresa tem acordos de comercialização com os três operadores e com a Sicom.
Contactando a Optimus, no entanto, fomos informados de que a empresa não comercializa directamente o Ericsson R290, embora suporte o serviço Globalstar. Para aquisição do telefone remeteram-nos para a Ericsson embora o assistente nos tenha adiantado ter conhecimento (certamente equivocado) de um modelo opcional Motorola de referência não especificada.
A TMN admite alugar ou vender o Telit Sat 550, conhece a existência do Ericsson R290 mas não foi capaz de nos dar valores para ele. Note-se, por seu lado, que o aluguer do Telit obriga a uma caução que importa no valor total do próprio telefone (230 mil escudos).
A Telecel, semelhantemente, oferece o Telit para venda. Depois de muita insistência relativamente ao Ericsson R290 a assistente acabou por apurar que, de facto, o Ericsson R290 também está disponível mas para aluguer, nas lojas dos aeroportos de Lisboa e do Porto.
No tocante a preços, saliente-se que a Telecel vende o Telit Sat 550 por um preço apreciavelmente mais barato do que a TMN: 199.500$00 contra 226.500$00.
No plano dos tarifários, a oferta mais interessante parece ser a da Optimus com um tarifário fixo de 700 escudos por minuto qualquer que seja a origem ou o destino.
Na TMN informaram-nos de que o tarifário internacional é variável entre 401 e 1602 escudos/minuto, sendo as chamadas feitas através da rede Globalstar dentro no nosso país para a rede fixa taxadas em 355 escudos por minutos e em 431 escudos para a rede móvel.
Os preços praticados pela Telecel obedecem igualmente a valores variáveis mas que se podem estender dos 419 escudos aos 763 escudos ou mais – dependendo dos gateways utilizados.
Um dos factores que mais fortemente abonam em favor do Ericsson R290 é o seu peso. Comparando com o modelo alternativamente oferecido para acesso à rede Globalstar (com GSM – existe ainda um Qualcomm para as redes CDMA), o Telit 550, o Ericsson pesa menos 75 gramas (350 contra as 425 do Telit) e, sobretudo, é substancialmente menos volumoso.
Por referência aos modelos GSM trata-se de um terminal bojudo. Comparativamente aos demais telefones por satélite, porém, o Ericsson detém linhas de grande elegância, com uma estética equiparavél à do ao modelo GO118 do mesmo fabricante e uma integração quase perfeita da antena no corpo do telefone.
Efectivamente, com 18 centímetros de comprimento, a imprescindível antena – que, nas especificações do fabricante e na experiência do Telemoveis.com deve forçosamente estar distendida, mesmo no exterior, para que a comunicação com o satélite se possa efectuar – desdobra e integra-se perfeitamente permitindo com facilidade guardar o telefone numa gabardina, mochila ou porta-luvas de um carro.
Como telefone móvel o Ericsson R290 é bastante minimalista: os menus são simples e o conceito de “mobile fun” é totalmente ignorado. A marca terá entendido que, dado o tipo de público e de circunstâncias em que alegadamente é para ser usado podia dispensar as opções de personalização e ou de carácter lúdico: o modelo vem com uma cor azul escura, sem oferta opcional e apenas três opções de toque.
Em termos de funcionalidades o telefone faz o imprescindível, incluindo a possibilidade de desviar chamadas para outro número, mantê-las em espera ou barrar números.
De entre os sete grandes itens em que se divide o menu (Inicialização, Tempo de Chamada, Mensagens, Comutação Satélite, Avançado, Serviço e Bloqueio do Teclado) destaque para a opção de poupança de energia através da anulação da iluminação ou a supressão dos icones.
O pormenor anterior é tanto mais curioso quanto a duração da bateria (1650 mAh) do Ericsson R290 se cifra em um pouco menos de 10 horas em standby no modo satélite e em pouco mais de dois dias no modo GSM (realizando algumas chamadas).
O display é espartano q.b.: quatro linhas de texto capazes de reproduzir 12 caracacteres. O suficente para enviar e receber SMS.
Os plásticos e as teclas são feitas de material robusto e a antena possui uma saliência que assegura que esta não se prende nem danifica.
A prestação sonora do Ericsson R290 é excelente. Nas redes GSM o volume e a clareza são impressionantes sendo a qualidade das transmissões via satélite altamente satisfatória – a Globalstar usou, aparentemente com justificação, como grande leitmotiv da sua campanha de lançamento a dotação da sua rede da tecnologia AMRC).
O serviço Globalstar foi concebido de raíz – ao contrário do projecto rival Iridium – para disponibilizar não apenas serviços de voz mas também de dados. Nos Estados Unidos a companhia já disponibilizou o serviço(velocidade de 9.6 kbps). Na Europa o lançamento está eminente.
Relativamente ao roaming GSM, o Telemoveis teve oportunidade de testar o modelo (com um cartão especial, dual-mode, nativo Globastar) e constatou de que, por razões não clarificadas (eventualmente problemas de configuração da rede GSM), não obstante conseguir efectuar o registo juntos dos três operadores nacionais apenas na Telecel conseguiu, de facto, realizar chamadas.
Não conseguimos da mesma forma enviar ou receber SMS quer através do modo satélite quer através do modo GSM.
Os investimentos brutais que implica desenvolver, construir, segurar, lançar e gerir uma rede de dezenas de satélites só poderiam ser resercidos mediante o incremento rápido e massivo do número de clientes. A prática, no entanto, demonstra que a adesão ao serviço é bem mais moderada do que o esperado. Apesar de tudo o marketing não faz milagres e a ideia mais ou menos mítica de colocar os beduinos, no meio do deserto, a ligar por satélite não conhece concretização prática: seja porque as redes sem fios terrestres se generalizaram com um grau de satisfação elevado um pouco por todo o lado, seja porque, apesar de tudo, os telefones por satélite são volumosos e dispendiosos de adquirir.
De uma forma geral os operadores de comunicações por satélite sobreestimaram gravemente o mercado e as suas possibilidades de crescimento. A Globalstar não é excepção e está em situação financeira periclitante. A empresa afirma deter activos capazes de assegurar a gestão até ao final do ano 2001. No entanto, apesar de estar a registar taxas de adesão elevadas e de ter obtido resultados financeiros favoráveis no último trimestre a companhia continua aquém do necessário para sobreviver a longo prazo. 40.000 subscritores, tendo presente que opera a nível global, é um número sobremaneira reduzido. Operadoras nacionais, como a Optimus, com custos de lançamento e operação mais baixos conseguiram, ao fim do mesmo tempo de operação, assegurar dez vezes mais clientes.
O modelo foi descontinuado pela Ericsson que, segundo o portal Yahoo, está em lítigo com a Globalstar por alegado incumprimento das cláusulas contratuais que obrigavam a Globalstar a adquiri X números (não atingidos) do modelo.
No entanto, segundo o Telemoveis.com conseguiu apurar junto de Stephane Bobinet, responsável da Globalstar, «a empresa vai continuar a comercializar unidades celulares Ericsson do stock existente.»
Segundo a mesma fonte, «não existe nenhuma situação contenciosa entre ambas as marcas relativamente ao contrato estabelecido e o fornecimento dos telemóveis Ericsson adquiridos por parte da Globalstar já foi saldado. O término natural do contrato não afectará a disponibilidade dos telemóveis ou sequer a sobrecarga do serviço. O mesmo nível de serviço e funções permanecem garantidas a todos os clientes.»
Por comparação, recorde-se, o modelo Telit 550, pese embora as suas desvantanges (maior dimensão etc…) custa até menos 150 contos.
Pelo preço e dada a tecnologia empregue não seria muito ambicioso esperar que o modelo também incluisse funcionalidades de GPS e as suas capacidades GSM se estendessem às duas bandas (900 e 1800 MHZ). Igualmente, a Globalstar ainda não oferece uma cobertura global (no sentido integral do termo) concentrando-se, isso sim, por ora, em todas as zonas povoadas em que assume poder ter um mercado de consumo relevante. A recém restaurada rede Iridium oferece uma cobertura mais vasta (incluindo os extremos polares), sobretudo a nível das massas de água. A opção entre as duas depende muito do fim que se pretenda.
O preço recomendado para o R290 pela Ericsson Portugal é de 349.900 escudos (IVA incluído) e, pela Globalstar, de 1524 Euros + taxas. Comparando-o com o valor porque se pode adquirir o Telit Sat 550 (990 Euros) é caso para ponderar se o incremento é proporcional à utilidade extra.
Como desiderato final o Ericsson é um modelo interessante para um público específico profissional e institucional mas pouco apelativo, dado o custo, para os demais utilizadores.
Hugo D. Valentim
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