Skip to main content

Foi a Vodafone que perdeu aquilo que a Optimus ganhou

O Telemoveis.com aproveitou a presença do presidente da TMN, Iriarte Esteves, na inauguração da Mega Store no Porto e conversou sobre o panorama das telecomunicações móveis em Portugal. Desde o GPRS ao UMTS, passando pela concorrência, nada ficou por esclarecer, nomeadamente o polémico acordo da operadora móvel da PT com a Oniway, que tantos dissabores tem causado ao proprietário da quarta licença móvel nacional.

O Telemoveis.com aproveitou a presença do presidente da TMN, Iriarte Esteves, na inauguração da Mega Store no Porto e conversou sobre o panorama das telecomunicações móveis em Portugal. Desde o GPRS ao UMTS, passando pela concorrência, nada ficou por esclarecer, nomeadamente o polémico acordo da operadora móvel da PT com a Oniway, que tantos dissabores tem causado ao proprietário da quarta licença móvel nacional.

 

Por Pedro Figueiredo

Qual a sua análise ao panorama actual das telecomunicações móveis em Portugal?
De momento, o mais importante, do ponto de vista dos operadores e dos utilizadores, é a transição do actual sistema GSM para a 2,5G, que demonstrámos com a apresentação do MMS. Isto irá servir como uma fase de preparação para o arranque da 3G, que se dará algures entre o final deste ano e o princípio do próximo.

Acha importante essa fase de transição, sendo o período temporal tão curto (praticamente seis meses)?
Claro. É importante porque vai permitir o lançamento de um conjunto muito alargado de serviços de voz e dados que serão massificados com a entrada do UMTS. Alguns já se usam a nível profissional, que não são do conhecimento geral, mas já se comercializam numa óptica empresarial. Acreditamos ser possível a sua massificação com o advento dos novos sistema de comunicação pós-GSM.

Já se fala, pelo menos, há dois anos no UMTS. Não acha que, pelo facto de ainda não estar disponível ao público, poder-se-á ter criado expectativas demasiado altas, provocando alguma desilusão nos clientes?
Essa expectativa foi criada, exactamente, há cerca de dois anos, até pela forma como o próprio processo de atribuição das licenças foi conduzido, mas, nessa altura, tudo não passava de projectos no papel. Agora, a situação está num ponto muito mais concreto…

Mas não considera que isso poderá ter jogado a desfavor dos operadores?
Jogou, com certeza, contra nós. O nosso papel agora é tentar recuperar o tempo perdido na criação dessas expectativas.

O que está a ser feito para superar essa falha?
Já temos uma rede a funcionar, à experiência, com cerca de 80 estações-base. Já foram feitas demonstrações reais, em público, das capacidades do UMTS (n.r. – as demonstrações reportam-se à apresentação oficial do UMTS na exposição Portugal Media, na Exponor, e a um pequeno ensaio na inauguração da Mega Store do Porto). Portanto, já temos três núcleos dessa mesma rede com 80 antenas a funcionar distribuídos por Cascais, Santarém e Porto, pelo que as chamadas de vídeoconferência são uma realidade. Este ano vai haver UMTS, com toda a certeza. Se não for em regime comercial pleno, irá haver em regime experimental. Isto para que no início do próximo ano, tal como está definido pela Anacom, a 3G seja uma realidade a nível nacional.

Isso significa que, no início do próximo ano, tal como determina o regulador nacional, haverá UMTS comercial em Portugal?
Não depende só de nós, obviamente. Há alguns desenvolvimentos tecnológicos que ainda são necessários, que serão feitos pelos fornecedores de equipamentos e que nós não conseguiremos ultrapassar se eles não o fizerem.

Está a referir-se às infra-estruturas de base ou aos telemóveis?
Aos dois. Em primeiro lugar, tem de haver telemóveis. Neste momento, as nossas perspectivas são que haja umas dezenas de milhares de telemóveis ainda no final deste ano.

Que marcas de telemóveis UMTS tem a TMN associada à sua rede?
Há vários fornecedores que nos garantem a entrega de terminais ainda este ano. Não lhe posso dizer quais são, mas há mais do que uma marca a dar-nos essas garantias.

São as mesmas que fornecem as infra-estruturas para a rede (Alcatel e Ericsson)?
Algumas são, mas há mais para além dessas. Ainda há problemas nas infra-estruturas que têm de ser resolvidos. Por exemplo o «hand-over », a passagem de célula para célula sem interrupção da chamada. São afinações tecnológicas que só conseguiremos ultrapassar com a colaboração dos fornecedores de equipamentos, contando que sejam todos resolvidos até ao final do ano. Não estamos em condições de garantir, a 100%, que estaremos prontos, mas temos expectativas, com 90% de certezas, de que vai haver UMTS até ao final deste ano.

Quais são os estudos da TMN para que o custo dos investimentos no UMTS seja recuperado?
As nossas perspectivas de arranque do UMTS são muito menos exigentes do que eram há uns anos atrás. Tanto os analistas como os próprios fornecedores davam a ideia que, em apenas dois ou três anos, a 3G iria acabar com o GSM. Hoje, parece-me que a tendência é para uma entrada mais lenta. Isso permite graduar os investimentos necessários por um período mais longo, deixando de existir as despesas calculadas para os tais dois anos avassaladores. Do ponto de vista do operador, este cenário é bem melhor porque faz-nos avançar com menos riscos e espraiar mais o volume de investimentos.

Haverá então alguma quota de culpa dos operadores no atraso do UMTS por uma questão de investimentos?
De forma alguma. Os operadores de telecomunicações assumiram compromissos e estavam disponíveis para avançar com a 3G logo que houvesse condições para isso. Só que essas condições não estão exclusivamente dependentes dos operadores: nós não somos construtores de terminais nem de infra-estruturas. Nesse capítulo, estamos completamente dependentes dos fabricantes para se poder oferecer o serviço. Só agora é que o hardware surgiu, designadamente os terminais, em pequenas quantidades. Não tivemos nenhuma influência no atraso, apesar de termos beneficiado com essa situação.

E o que será feito do GSM?
O GSM é um serviço que irá sobreviver por muitos anos. Nós estimamos que só lá para 2006 ou 2007 é que o número de clientes UMTS ultrapasse o número de utilizadores GSM, ou seja, a nossa estratégia para o GSM é a melhoria sistemática da qualidade dessa rede para satisfazer plenamente os clientes que, sendo muitos – conseguimos alcançar os 4 milhões! -, precisam sempre do melhor acompanhamento possível da nossa parte para que se sintam sempre satisfeitos.

Mas será uma rede «estática», sem perspectivas de evolução?
De maneira nenhuma. Contamos apostar no GSM, com o complemento do GPRS, para fornecer aos nossos clientes a maior quantidade de serviços cuja utilização e aplicação no dia-a-dia tenha interesse, como por exemplo o serviço que agora lançámos das mensagens multimédia (MMS).

Segundos indicações do ex-ICP (agora Anacom), um operador móvel para sobreviver teria que ter, pelo menos, uma quota de mercado de 20%. Ao atingir os 4 milhões de clientes, a TMN fica, praticamente, com metade do mercado nacional. Como vê a entrada de um quarto operador?
Isto vai ficar muito difícil para o quarto operador, ou para um dos que já existe. A nossa posição é confortável porque, como disse, com 50% de quota de mercado, torna-se numa empresa rentável, satisfaz plenamente as performances que os accionistas esperam de nós, em termos de margem e de lucro. Para o quarto operador, que parte de uma quota zero, o desafio é grande e será muito difícil. É óbvio que os três operadores actuais não vão ficar à espera ver os seus clientes emigrar: vão agir e talvez até por antecipação.

Nesse sentido, qual foi a estratégia da TMN em chegar a acordo com a Oniway, no que diz respeito à utilização da rede?
O que nós pusémos à disposição do quarto operador foi a nossa rede de rádio como acesso a uma rede de telecomunicações mais vasta do que aquela que eles têm. Eles têm um núcleo de rede de terceira geração, tal como nós temos, só que não têm, ainda, disponível a rede de rádio UMTS. Têm os tais desacertos tecnológicos que necessitam de ser afinados, como eu tinha referido. O que nós fizémos foi chegar a um acordo comercial com a Oniway, que estava interessada, e nós não tínhamos qualquer objecção a que utilizassem a nossa rede actual GSM/GPRS para acesso à sua rede 3G.

Mas esse acordo poderá ter causado alguns problemas à Oniway…
Esse é um problema que eu penso que a Anacom vai resolver muito rapidamente.

Mesmo com metade da quota de mercado, como encara a concorrência, nomeadamente a Vodafone que está inserida num grupo internacional muito forte?
Olhamos sempre para a concorrência da posição de quem tem 50% de quota do mercado…

Mas não teme que a dimensão da Vodafone e a sua experiência internacional venham a afectar, de certa forma, o mercado nacional?
Nós também temos as nossas parcerias e o nosso know-how . Depois de um período em que, de facto, estivémos a perder clientes aquando da chegada do terceiro operador, recuperámos sistematicamente para os actuais 50%, que era a quota que tínhamos antes da entrada da Optimus. Daqui pode concluir-se que foi a Vodafone que perdeu aquilo que a Optimus ganhou. Já provámos no passado que somos capazes de concorrer em força e manter a nossa performance e liderança no mercado.

No outro extremo está a Optimus, que ainda não conseguiu, sequer, atingir o break-even e está com uma quota inferior ao mínimo necessário…
Efectivamente, a Optimus é, dos três operadores, aquele que se encontra em maiores dificuldades e, para sobreviver, precisa de uma quota de mercado maior do que aquela que detém actualmente. Segundo li recentemente num estudo feito por um banco, para se conseguir atingir o break-even é necessária uma quota entre os 25 e os 30%. Mas isso é um problema da Optimus e, a nós, compete-nos ganhar a maior fatia possível de clientes e não deixá-los fugir!