As comparações entre o cigarro e o telemóvel, neste domínio, são inevitáveis, tendo em conta o novo Código da Estrada português. E resta ver se não veremos por aí nova polémica que envolva também os fumadores e a indústria tabaqueira, algo semelhante à que aqueceu os ânimos quando foi das taxas de alcoolemia.
De resto, basta ver que a sociedade germânica já discute acessamente a possibilidade de introduzir as novas proibições. «Os cigarros ao volante distraem tanto como os telefonemas com os telemóveis, precisamos de uma proibição urgente e das multas respectivas», afirmou a deputada democrata-cristã Katherina Reiche, em declarações à imprensa.
A proposta foi apoiada pela porta-voz dos democratas-cristãos da Baviera (CSU) para questões de saúde pública, Gerlinde Kaupa, e também por Peter Dancker, especialista do Partido Social-Democrata (SPD) em matéria de tráfego. «Fumar a conduzir aumenta drasticamente o risco de acidentes, e por isso sou a favor de uma proibição absoluta de fumar ao volante», declarou este último.
A propósito, o jornal «Bild» publicou um estudo de peritos em segurança rodoviária, segundo o qual um carro a 50 quilómetros por hora percorre 14 metros por segundo, enquanto o condutor procura apanhar um cigarro caído.
O ADAC lembrou, no entanto, que até agora «nenhum político explicou como é que se pode controlar uma proibição de fumar ao volante», e através do seu porta-voz, Andreas Hoelzel, considerou «um disparate» introduzir mais uma proibição. Heolzel invocou que «há milhares de coisas que influenciam um automobilista durante a condução, e usar o acendedor de cigarros no carro distrai tanto o condutor como tirar um lenço do bolso, por exemplo».
O Automóvel Clube, que representa mais de 10 milhões de sócios na Alemanha, considera a proposta dos políticos um acto «extemporâneo e pouco reflectido» e acha que, para haver uma proibição de fumar ao volante, «tinham de se proibir primeiro muitas outras coisas».
Já os representantes das companhias de seguros têm opinião diferente, embora não estejam abertamente a favor da proibição de fumar para os condutores. «Em certos casos, fumar ao volante pode ser considerado pelos tribunais uma negligência grave, mas isso são excepções», afirmou Klaus Brandenstein, da Associação das Seguradoras Alemãs.
«Pode haver também negligência grave quando um condutor esbraceja e larga o volante para tentar matar uma vespa dentro do automóvel, ou quando se vira para trás para mandar calar as crianças, e então tínhamos de proibir as pessoas de guiar, o que, por si só, já é um perigo», exemplificou Brandenstein.
«As pessoas morrem nas estradas porque se drogam ou embriagam, ou porque andam depressa de mais, mas empolar agora a questão de fumar ao volante não contribui muito para aumentar a segurança rodoviária», disse o mesmo responsável.
A proposta de proibição de fumar ao volante não é nova, pois surgira já no Verão de 2001, por iniciativa de deputados dos dois maiores partidos (CDU/CSU e SPD). Na altura, o então presidente do sindicato da polícia, Konrad Freiberg, disse que esta proibição não fazia sentido, afirmando que, então, teriam «de proibir também os automobilistas de sintonizarem os rádios ou de comer ou beber a conduzir».
O que é certo é que, por cá, a taxa de alcoolemia acabou mesmo por sofrer mexidas e o telemóvel também foi proibido, embora com as excepções dos dispositivos de mãos livres.
com Lusa