Dizem que a depressão é a epidemia do século. Eu desdigo. A grande epidemia deste século são as redes sociais. A pior das drogas, a que não escolhe classes, idades ou género. Aquela que se entranha à primeira experiência egocêntrica. A mais fácil de todas.
O que resta de nós quando num jantar partilhamos mesas com pessoas que seguram paus com um telefone e nos espiam como num submarino? Tenho medo, mas ao mesmo tempo tenho raiva, e depois dó. Não são sentimentos que partilhamos perante um viciado em álcool, em drogas ou mesmo no amor?
Noutro dia, vi uma rapariga lindíssima ao balcão de uma empresa de telecomunicações a perguntar, irada, como tinha gasto todo o seu tráfego. Ao mesmo tempo, escrevia mensagens e outra, que a acompanhava, mostrava um videoclip de uma kizombada. O rapaz respondeu-lhe, “mas minha senhora, já tem 4 gigas de tráfego, costuma fazer downloads de filmes com o telemóvel?”. “Ah isso conta muito?”
É este o problema. Porque Deus deu nozes a quem não tem dentes, a quem não percebe e não se consegue distanciar desta solitária forma de vida onde aprendeu a crescer e fazer-se notar. Moralismos à parte, que se a net nasceu foi para todos, deveria vir com um manual de instruções. Mas não aqueles que vemos no Ikea, sobre como colocarmos o parafuso 4b no orifício xb; a net deveria vir com um manual de instruções sobre relações humanas.
Adio a entrada dos meus filhos neste mundo enquanto posso. Dou-lhes, como se fosse um dia especial, uma maratona de filmes ou desenhos animados, não corro o risco de passar-lhes, desde já, esta ferramenta que o deixou de ser e agora nem um prolongamento de nós é; é mesmo o que nos define.
Sofro com as actualizações que os meus amigos fazem no Facebook. Aquele ainda não conseguiu vender a casa, o outro está numa relação nova, a outra perdeu o cão, e ainda há aquela que partilha as imagens da Chiado editora e é mais cabra do que uma personagem de ficção. Farto-me assim das “pessoas”.
Não posso fazer nada quanto a isto. Aliás, trabalho com “isto”. É por isso que, nas férias, tenho de desligar-me da rede e dos amigos, e das selfies e dos selfie sticks. Ter de dar mão de tudo isto a bem da sanidade mental não é fácil.
Protejam-se contra a solidão.