O vice-presidente da Acapo, Jacinto Moita, recorda que se não fosse o dito Programa de Ajudas Técnicas disponibilizado pelo Governo, «apenas 10 por cento dos deficientes teriam acesso às novas tecnologias. Só para ter uma ideia, o software de voz para computador custa 1100 euros, o que não está ao alcance de todos, pois nem todos trabalham em locais que possam suportar este tipo de custos». Quanto ao terminal desenvolvido pela empresa holandesa Alva, e cuja versão com braile vai custar cerca de 4000 euros (preço final, sem financiamentos), Jacinto Moita acredita nas potencialidades e se for incluído no Programa «os cegos podem daí retirar uma enorme rentabilidade».
Já Carlos Ferreira, um dos responsáveis pela UET e antigo director do departamento de ajudas técnicas da Acapo, não tem dúvidas sobre o potencial de mercado que o MPO 5500 terá em Portugal. «Hoje em dia, o avanço tecnológico corre de forma tão assustadora que os invisuais vão ficando cada vez mais ultrapassados. Tudo o que puder ser feito para minimizar essa distância é sempre bem-vindo», referiu.
«A maioria das pessoas usa só o telemóvel para fazer e receber chamadas ou enviar e receber mensagens. Acontece é que não fazem mais porque não querem, enquanto que os cegos não fazem porque não podem», explicou Carlos Ferreira. Com este novo modelo, até com correio electrónico vão poder trabalhar, para além de escrever pequenas notas de texto e gerir uma agenda de contactos, tudo o que um PDA permite fazer.
Segundo o vice-presidente da Acapo, já existem imensos cegos a utilizar terminais móveis. «Das pessoas que conheço, não há ninguém que não tenha um telemóvel. E as pessoas não fazem ideia da utilidade que este tipo de aparelho tem para nós. Se formos na rua e precisarmos de ajuda, é muito mais fácil pegar no telemóvel e telefonar a alguém do que andar à procura de uma cabina telefónica», explicou.
O Census realizado em 2000 detectou a existência de cerca de 160 mil cegos em Portugal. Uma comunidade já em número significativo e cujas naturais limitações merecem toda a atenção por parte de quem quer fazer chegar a Sociedade de Informação a todos os cidadãos.
As negociações entre a UET e a Optimus decorrem no âmbito de outros projectos que a operadora móvel da Sonae já levou a cabo juntamente com a Acapo. Apesar de ainda não estar decidido (afinal, o terminal só chega ao mercado português em Outubro), tudo leva a crer que será a Optimus a associar-se à vinda do MPO 5500. Isto depois da Portugal Telecom ter sido contactada para o efeito, já em Outubro passado (quando o terminal foi apresentado na Holanda), ficando pendente uma reunião com a administração da TMN.
