Por que razão os ecrãs Asahi Dragontrail ou Gorilla Glass não são 100% imunes a riscos

Em 2011, quando o Gorilla Glass da Corning já era a principal referência no mercado, a maior fabricante de vidro do Japão anunciou um concorrente à altura do vidro resistente da empresa norte-americana. Chamava-se Dragontrail e era um vidro resistente que podia ser utilizado em ecrãs de tablets, smartphones e computadores.
O Gorilla Glass é um vidro álcali-aluminossilicato (um tipo de vidro projectado para ser fino, leve e resistente a riscos) propriedade da Gorilla Glass Company dos Estados Unidos. Não é o vidro em si que é resistente a riscos, mas antes o seu revestimento – o processo químico usado para fortalecer as suas ligações de vidro também confere dureza ao produto final.
O Gorilla Glass é fortalecido através de um processo químico chamado permuta iónica (mais detalhes aqui), em que o vidro é aquecido a temperaturas elevadíssimas (400º) com o objectivo de substituir os iões mais pequenos por iões maiores, de potássio. O vidro é depois arrefecido, agora com uma nova composição que lhe confere maior resistência.
O Dragontrail é sujeito a um processo diferente, focado no fabrico de chapas de vidro planas e uniformes. O termo técnico para designar o processo, cuja designação em português não nos foi possível aprimorar com exactidão, é chamado de ‘float glass process’ (mais informações sobre o processo aqui).
À medida que os smartphones empregam ecrãs de maiores dimensões, tornando-se ainda mais susceptíveis a acidentes e danos, opções como Dragontrail ou Gorilla Glass tornam-se mais apetecíveis para as fabricantes de smartphones. Para além de oferecerem maior resistência, este vidro também oferece uma elevada qualidade óptica.
A seguir vamos focar-nos nos níveis de resistência destes dois materiais. Antes de avançarmos, é necessário compreendermos o que lhes confere dureza e, por consequência, maior resistência a riscos.
Segundo a escala de Mohs, uma escala que quantifica a dureza dos materiais, todos os materiais de dureza inferior não conseguem riscar um material com um nível de dureza superior. Por exemplo: a escala de Mohs confere ao quartzo um nível de dureza 7; segundo esta lógica, o cobre – de nível de dureza inferior a 7 – não é capaz de arranhar este material. O contrário também se verifica: materiais com níveis de dureza superiores riscam materiais em níveis inferiores.
Na escala de Mohs, o Gorilla Glass 2 tem um nível de dureza 6 e o Gorilla Glass 3 apresenta nível 6.7. O Dragontrail apresenta 6.5. Estes valores são relativamente próximos, o que lhes confere um grau de resistência semelhante. Já materiais como o vidro de cristal de safira apresentam níveis de dureza superiores (entre 8 e 9).
São níveis de resistência bons. No entanto, importa sublinhar que em ambos os casos os vidros continuam susceptíveis a riscos. A areia, essencialmente constituída por fragmentos de minerais (incluindo quartzo), é o material mais susceptível de danificar estes vidros. Se olharmos novamente para a escala de Mohs, e considerarmos que o quartzo possui níveis de dureza superiores tanto ao Gorilla Glass como ao Dragontrail, temos a resposta.
Em áreas muito arenosas e poeirentas é aconselhável considerar utilizar uma protecção de ecrã. Quando estiver a limpar o ecrã do seu telemóvel, tenha especial cuidado ao retirar grãos de areia para não deixar riscos. Para fazê-lo de forma eficaz deve primeiro soprar os grãos, depois utilizar um tecido macio para limpar o vidro, varrendo-o primeiro e só depois limpando como faz habitualmente.
Importa referir que ambos os materiais também quebram apesar da sua dureza, dependendo do tipo de queda que dêem e das circunstâncias em que esta ocorre.