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Rui Antunes revela-nos a visão Motorola

Em entrevista ao Telemoveis.com, o responsável aborda em especial o posicionamento do fabricante face à evolução previsível do mercado dos terminais móveis.

Rui Antunes, responsável nacional da Motorola – em especial pelo sector do marketing e comercialização dos terminais móveis – acedeu graciosamente responder a uma série de questões do Telemoveis.com concernentes ao balanço que a marca de origem norte-americana faz do sector das telecomunicações a nível mundial e – em especial – ao seu desempenho e presença em Portugal.

Publicamos de seguida a entrevista que nos foi concedida, reservando para segundo texto as suculentas informações prestadas sobre os trunfos da marca para o ano em curso.

Rui Antunes Um estudo Gartner chegou recentemente a dar como terceiro maior fabricante mundial de terminais móveis a Samsung, colocando-se imediatamente atrás da Motorola. Será que esta última se sente «ameaçada»?

A Samsung tem-se vindo a assumir como um fabricante cada vez de mais relevo na área dos terminais móveis. É um gigante que nós respeitamos. Tenho a certeza que eles também nos respeitam. No que concerne a área específica dos terminais móveis, a Motorola tem, não diria a sua posição «natural», mas aquela que tem vindo a merecer desde o início desta indústria…

Mas no mercado Asiático, tido como encerrando especial potencial de crescimento, a Samsung, empresa coreana, sempre tem vantagem?

Não entendo que o grande potencial está na Ásia, que é o continente que junto como a Europa, em termos de comunicações móveis está mais evoluído. A questão é que aí estão a ir por outros caminhos em termos de tecnologia…

Mas existe também a pura questão da dimensão. O mercado chinês por ex…

O mercado é o maior do Mundo sem dúvida. Penso porém de uma forma genérica que o mercado asiático não é um mercado virgem à espera de ser descoberto. Se calhar há 3-5 anos isso seria mais verdade. Nos últimos 10-15 anos foi quando a China se abriu mais ao Ocidente e as grandes multinacionais começaram a aparecer. Aí sim foi a altura chave e apraz-nos muito dizer que fomos das primeiras empresas a investir fortemente na China onde somos, de acordo com os últimos dados, o maior investidor. Isto para dizer que quando falamos na Ásia em geral, englobando a Coreia, o Japão etc…não será tão verdade que seja um mercado à espera de ser conquistado.

Em relação à sacrossanta questão do UMTS. Como o entende a Motorola e que sinais há a retirar do lançamento pioneiro do vosso A820?

Em termos de utilização da tecnologia para expansão? Penso que a questão aqui pode residir muito na questão dos standards. Parece que o standard dominante de terceira geração vai ser o WCDMA. Não sei como é que o Japão se vai comportar perante esse standard. Ainda assim, se assumíssemos que houvesse um standard mundial único para o UMTS, o facto de entrarmos num novo paradigma é uma altura do campeonato absolutamente crítica. Mudam as regras do jogo todas. Pode haver uma revolução em termos daquilo que são os conceitos actuais das pessoas pensarem.

A concorrência (Sony Ericsson, por exemplo) anunciou o lançamento ao longo do ano de um conjunto de modelos que apostam em adiantar muitas funcionalidades que se esperava chegarem só com o UMTS já no GPRS e na 2,5G. Qual a visão da Motorola do atraso da 3G?

Eu acho que o grande problema do UMTS tem sido que as expectativas criadas em Portugal foram demasiado altas. E quem as criou foi quem as comunicou da parte da indústria, incluindo operadores, fabricantes e comunicação social. O que eu aí entendo é que a partir do momento em que essas pessoas todas tiveram a percepção do que seriam as possibilidades todas do UMTS desataram a pregá-las. O UMTS, porém, passa também por um processo de crescimento e não é pelo facto de haver uma determinada licença que diz que no dia 01 de Janeiro de 2001, de 2002 ou de 2010 que de repente todas as possibilidades do UMTS eram transladadas para aquele dia. Isso não é verdade porque a partir do momento em que fizer uma chamada de voz numa rede de terceira geração pode-se dizer que estou a utilizar o UMTS. Simplesmente a expectativa que foi passada para os consumidores era de que o UMTS era video streaming e por aí fora… Daí que sendo uma expectativa tão alta e tendo sido de alguma forma defraudada existe um sentimento tão forte de detenção.

« Quando em Portugal as pessoas começaram a usar telefones transportáveis, em 1989, se nós perguntássemos a cem pessoas que uso é que dariam aquilo se calhar 99 diriam que nenhum….»

Isto para chegar aqui: na realidade há 2-3 anos já se tinha por bastante claro que o UMTS a sério não se podia ter antes de meados-finais de 2003-4. Sem estarmos a falar sequer em termos daquilo que, se calhar, talvez seja a grande killer apllication do UMTS: o video streaming. Se calhar isso é que é a grande diferença. Porque nós olhamos para o GPRS e para o EDGE e já nos permitem pequenos video streamings, picture messaging e esse tipo de coisas. Portanto, houve aí alguma falha da parte de todos os actores da indústria e não aponto o dedo a ninguém em geral…

Mas não há tecnologia porque não há mercado ou não há mercado porque não há tecnologia?

Quando em Portugal as pessoas começaram a usar telefones transportáveis, em 1989, se nós perguntássemos a cem pessoas que uso é que dariam aquilo se calhar 99 diriam que nenhum. No fundo a questão é: se nós temos um dispositivo ou aparelho que nos apresenta uma solução para uma necessidade antes das pessoas terem real uso desse aparelho elas não têm uma noção clara da utilidade que lhe podem vir a dar. Ou seja, o media streaming, o UMTS e todas as suas possibilidades, neste momento não será muito claro para os consumidores o que podem fazer com ela.

Na sua perspectiva qual é a killer application do UMTS? Em termos estratégicos em que é que apostam, no video streaming como diz…?

Não gosto de usar a expressão killer application, prefiro pensar numa aplicação que seja mais apelativa para um tipo de tecnologia. Assim sendo, estamos de facto a falar da possibilidade de falar-mos de uma pessoa que está longe e vê-la. Isso se calhar é a grande diferença. Embora seja óbvio que para nichos específicos outras possibilidades se elevam. Penso, por exemplo, em aplicações de negócios e na possibilidade de eu fazer operações bolsistas em tempo real e em movimento para um dado tipo de cliente vai ser importante. Mas em termos de massificação, de um serviço que toda a gente entenda como apelativo e útil. Aí é o caso do video streaming.

A nível dos modelos de terminais Motorola propriamente em que é que isso se traduz? Como é que pretende colocar as pessoas em contacto e despertar-lhes o interesse para as novas possibilidades? Isso está sobretudo ligado ao entretenimento e ao lazer. À utilização do telefone permitindo algo mais do que a comunicação entre as pessoas: interagir a outros níveis que não o som. Temos o exemplo clássico do envio e recepção de mensagens escritas que foi um novo meio de comunicar com uma evolução própria…

Isso vem na linha, por exemplo, do anúncio recente da incorporação do ICQ no vosso modelo V101 e de encontro à noção de convergência entre PDAs e telemóveis. Algo já tentado aproximativamente com a gama Accompli…? Rui Antunes

O Accompli é um produto que foi desenvolvido com base numa necessidade que foi identificada e que tem que ver com uma realidade que neste momento é um nicho de mercado. É dirigido aquele tipo de pessoa que precisa de um aparelho com maior capacidade de processamento que – como disse à pouco – precisa de uma espécie de uma espécie de mini computador que também é telemóvel. Conforme os fabricantes – e não falo só dos de telemóveis – têm um tipo de solução diferente e alguns fabricantes de telefones celulares como a Motorola desenvolveram este tipo de solução integrada de PDA com telemóvel. Estamos muito contente com o produto e temos a certeza que satisfaz as necessidades do tipo de personalidades a quem é dirigido.

Relativamente à discussão do sistema operativo que os ditos smart phones vão correr como é que a Motorola se posiciona?

Essa questão parece-me relevante em termos de perceber a perspectiva global da Motorola no tocante a software. A nossa perspectiva é de clara abertura em termos de arquitectura – e por isso se calhar é que surgiu o Symbian – a única forma de haver sucesso é de se acordar em a nível do desenvolvimento de aplicações no sentido de permitir a compatibilidade. Um exemplo disso é a informática…

A questão que colocava ia mais no sentido de entender se estão dispostos a manter-se na aliança para manter a Microsoft tanto quanto possível fora do sector?

Aí continua a haver a questão da abordagem competitiva. Ainda não existe por parte dos fabricantes representados no Symbian uma posição definitiva face à Microsoft. Outros fabricantes haverá que se calhar têm a noção de que não têm tanta capacidade competitiva na área dos telemóveis que se associaram à Microsoft. É confortável e sabem que só por isso a sua posição de vê de alguma forma reforçada. Não lhe posso dizer o rumo exacto. O importante é que a vencedora seja a solução mais agradável para o utilizador.

Mas a antevisão de uma convergência de software e – fala-se por vezes – da inter mutabilidade de muito componentes (smart medias etc…) entre marcas baralha um bocado as cartas em termos do que era até agora um certo monopólio ou império que cada fabricante exercia sobre o fabrico…

Certamente não haverá uma solução única em termos de software. Quanto muito existirá uma tendência dominante e quem decidir ir contra ela corre alguns riscos a nível de não a ver as suas aplicações correrem e haver problemas de compatibilidade. Quanto ao hardware isso não me parece muito preocupante. A Motorola desde a pré-história dos telemóveis que tem estado envolvida em tudo o que é desenvolvimento de tecnologia. Hoje é a empresa que tem o maior número de patentes no fabrico de um telemóvel. O sucesso do telemóvel é um pouco o sucesso da Motorola.

Num passado recente os modelos Motorola passavam na opinião pública a imagem de serem algo «desajeitados», em funcionalidade e com alguma falta de usabilidade a nível do software, por exemplo…

Em termos de «funcionalidades» penso que é algo que devíamos deixar de fora porque dependendo da gama em que o telefone é colocado assim será maior ou menor o número de funcionalidades, isso tem que ver com todas as marcas. Falando em termos de software concedo que já várias vezes me questionarem sobre o interface de utilizador dos telefones Motorola. Os telefones da Motorola até há sensivelmente dois anos tinham evoluído em termos de interface de utilizador em termos que eram muito «proprietários». Quem tinha e utilizava diariamente um telefone Motorola não queria outra coisa porque sabia perfeitamente, sem olhar para o ecrã, quantas vezes é que tinha de carregar em que teclas para chegar onde queria. Agora, o seu tipo de comentário ouviu-o em especial de pessoas que trocam frequentemente de marcas de telemóveis. Ora, cada marca tem a sua arquitectura de menus, o seu interface de utilizador o que faz com que, na troca, uma pessoa que mude ache que não é “user friendly”. Concedo que várias vezes me foi apontado como uma questão. Aquilo, porém, que também tem sido claro nos últimos dois anos foi que foi feito um esforço para que nós obtivéssemos um feedback por parte do consumidor como os nossos telefones tivessem uma interface mais intuitiva. Em testes ao consumidor, aquilo que poderá verificar se quiser é que a nossa interface tem sofrido melhorias imensas.

Falando no nosso mercado. Em termos gerais, em que é que consistem e porque áreas se estendem as actividades da Motorola em Portugal?

A Motorola em Portugal tem três divisões: a área dos telemóveis que corresponde ao Personal Communications Sector; a área das infra-estruturas celulares, Global Telecom Solutions Sector; e temos mais recentemente uma área mais pequena correspondente ao Commercial Government and Industrial Solutions Sector, correspondente à área de «trunking», de venda de soluções de rádio profissional, por exemplo; de comunicação rádio utilizada pelo polícia etc…

Em termos de volume de vendas, a área de «trunking» é relativamente recente e ainda não tem expressão. Se estamos a falar em facturação não me enganarei muito ao dizer que a área de telemóveis e infra-estrutura de redes estarão ela por ela em termos do volume de negócios em Portugal.

« A Motorola o ano passado tal como este vai tentar manter-se numa quota de mercado que nos coloca no segundo ou terceiro lugar do mercado, com uma margem/cota a rondar os 20 porcento. Cerca de quinhentos e tal, seiscentos mil telefones…»

Em termos concretos de facturação isso corresponde a…

Não lhe posso dar informação concreta.

E no tocante ao número de telemóveis vendidos…?

Esses números são relativamente fáceis de depreender. Em Portugal venderam-se um pouco acima de três milhões de telemóveis o ano passado. A Motorola o ano passado tal como este vai tentar manter-se numa quota de mercado que nos coloca no segundo ou terceiro lugar do mercado, com uma margem/cota a rondar os 20 porcento. Cerca de quinhentos e tal, seiscentos mil telefones. Falamos de um mercado que ao longo dos últimos dois anos tem vindo a mostrar a tendência marcada de três fabricantes: a Nokia, Siemens e a Motorola como dominantes. Em 2001, e provavelmente em 2002, juntos deverão ter uma cota de mercado conjunta superior a 3/4. A cota neste mercado é algo volátil. Não estamos a falar de mercados maduros como os refrigerantes…

Abstraindo do volume de vendas, há a questão do rendimento que delas se retira. Que expectativas tem a Motorola? Pode-me adiantar alguns números?

Em relação a margens não lhe sei comentar. Em relação a qualidade, a nossa expectativa é aumentar ligeiramente as vendas mantendo-se naquele intervalo de 2-3 percentuais à volta de vinte…

Que especificidades reconhece ao mercado português?

De uma forma genérica é um mercado muito avançado, muito virado para as novas tecnologias; para a introdução de novos serviços e tecnologias. Essa percepção era tão grande que o primeiro incumprimento grande de expectativas em Portugal só apareceu com o WAP que foi uma espécie de pé no travão. O consumidor português ao longo das últimas duas décadas tem-se vindo a mostrar muito receptivo em relação a tudo o que seja novas tecnologias. Não basta que tudo o que fazemos seja bom, é preciso que se traduza em benefícios claros para ele.

O ano que passou qual foi o terminal que lhe deu mais satisfação a nível do vendas? E o que mais o desapontou?

O terminal que nós sabemos que tinha muito mais potencial do que aquilo que se veio a revelar a nível de vendas foi o Timeport 250. Lançamos o telefone em finais de 2000, primeiro trimestre de 2001. Tecnologicamente era recente a introdução do WAP na altura. Junto com o V50, que se veio a revelar um grande sucesso de vendas, introduziu uma característica inovadora: um led retro-iluminado azulado muito agradável à vista. Sabemos de entidades a quem emprestámos o telefone que ficaram extremamente contentes.

A que é que a atribui esse insucesso?

Eventualmente decido à área competitiva onde o telemóvel se inseriu, o segmento empresarial, onde a Motorola não tinha grande representação expressiva e onde há um competidor muito forte, nós obtivemos como feedback do mercado que não ia haver muito procura do telefone. Quase que nem foi dada hipótese ao produto.

Abstraindo da questão anterior, depreendo da nossa conversa que vê como seu competidor mais directo a Siemens… correcto?

A nível mundial a Motorola neste momento encontra-se numa posição em que não está a olhar para ninguém à volta porque o competidor que está atrás, está muito atrás com menos do seu market share, o competidor está à frente está bem à frente. Em Portugal se anteriormente o nosso competidor mais directo, depois da Nokia, era a Ericsson neste momento estamos num ombro a ombro com a Siemens.

Ainda em relação à sua questão, pelo lado dos «sucessos» recordo o V3688. Esse telefone veio no fundo, com toda a gama de telefone em forma de concha, colher toda a sua inspiração aquilo que foi um trademark da Motorola, o StarTac que, quando foi lançado, pesava menos de metade do seu concorrente directo e constitui um marco relevante para a industria. O ano passado fizemos uma renovação do portfolio em que incluímos dois telefones com o design igual, o V3690 e o V50. Se me pergunta estritamente em relação ano passado falo-lhe do V50 como um grande sucesso a nível de marketing e de renovação da família de produto e do V3690 que era o seu antecessor de geração e que, esse sim, se veio a referenciar como um bestseller. Esse produto para nós foi um estrondoso sucesso. E temos a certeza que à medida que vamos entrando neste ano o V50 vai representar também esse tipo de imagem e de resultado.

H.D.V.