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SMS: A futura invasão de mensagens não solicitadas

Após terem tomado de assalto o email, saiba que fraudes e partidas podem chegar ao seu SMS

Quem possui e-mail provavelmente já recebeu cartas, nas quais se garante sorte no amor ou promessas de receber dinheiro, normalmente caso sejam reenviadas a um certo número de pessoas. Essas “chain letters” costumam ser fraudes, partidas, humor, ou, então esquemas inventados por indivíduos com o objectivo de fazerem dinheiro. Pode o mesmo acontecer com as mensagens SMS nos telemóveis? A resposta a essa questão é sim. Apesar de não haver conhecimento destes casos em Portugal, existem relatos em Espanha de envio de mensagens não solicitadas (de uma origem desconhecida) a anunciar promoções comerciais.

Demasiado bom para ser verdade

Imagine o que seria se recebesse no seu telemóvel a seguinte mensagem SMS: Fantástica promoção da LusoFone (operadora fictícia) ! Mude-se já para a nossa empresa e receba um telemóvel WAP de graça. Telefone para o número 9XXXXXXXX e mencione esta mensagem e o seu número de telemóvel. Se tivesse, por acaso, um telemóvel antigo a precisar de ser substituído, você telefonaria para aproveitar a coincidência? E se esta mensagem fosse enviada para toda a rede de uma operadora, com toda a gente que conhece e utiliza a mesma operadora a falar sobre isso? Após ler este artigo provavelmente não, especialmente sabendo que ter recebido essa mensagem quando estava precisar de trocar de telemóvel não é uma coincidência. Através da numeração do seu telefone, o autor da mensagem descobriu há quanto tempo é que você é assinante daquela operadora, o que diz que você provavelmente tem um aparelho antigo. Do outro lado da fronteira já ocorreram casos deste género, muitos deles com o objectivo de fazer publicidade enganosa.

Revolução em progresso nas Filipinas?

Um exemplo de uma possível saturação por parte de mensagens SMS provêm das Filipinas. Uma revolução silenciosa estaria a decorrer neste país, de acordo com as mensagens que viajaram nas redes de telemóveis. Os críticos do Governo, para além de acusarem o governo de corrupção e ineficácia, invadiram o ar com rumores sobre o Presidente do país, José Estrada. As mensagens informavam sobre as mais recentes vicissitudes da vida  de Estrada: raptado, derrubado do poder por um golpe de Estado, feito refém, assassinado, ou uma mistura de todos. Resultados práticos desta revolução silenciosa? Uma cada vez maior aderência a esta campanha de mensagens e uma preocupação das operadoras, algumas das quais tiveram de publicar anúncios em jornais a incitar os utilizadores do sistema a serem mais responsáveis.

Guerra entre fabricantes ou falso alarme?

Os exemplos de embustes no mundo do “email” abundam. Há cerca de meses a Ericsson foi obrigada a publicar um desmentido, respeitante a uma “chain letter” na qual era prometido um telemóvel WAP a quem reenviasse a mensagem a 20 pessoas. O texto era assinado por uma directora fictícia da companhia tendo, inclusivamente, sido colocado um aviso sobre os direitos de copyright no fim da mensagem! Para receber o telemóvel era necessário contactar um email da Ericsson, afirmando a carta que esta promoção só se destinava a utilizadores do Windows, devido a que com este sistema operativo a Ericsson poderia verificar se os emails tinham sido enviados. Esta “chain letter” levou o fabricante a ter de publicar um desmentido e de responder a todos os emails que entretanto haviam sido enviados para a companhia a explicar que aquilo era uma fraude.

Pode parecer algo divertido, mas para se ter ideia do alcance que estas fraudes ou brincadeiras podem ter é preciso mencionar que esta “chain letter” era anunciada no seu texto como sendo a resposta da Ericsson a uma suposta iniciativa igual da Nokia. Duas semanas antes, tinha aparecido uma “chain letter” da empresa finlandesa a anunciar que seriam dados telemóveis caso fosse re-enviada. A falsa mensagem da Nokia anunciava também que esta iniciativa destinava-se a promover o uso do WAP e era assinada por um suposto vice-director da companhia. E, dentro do texto da Ericsson, a referência a que o Windows podia verificar se se tinha reencaminhado a mensagem para vários destinos já foi ela própria uma fraude anterior, na qual se dizia que a Microsoft pagaria a quem reenviasse uma mensagem (e tal é impossível de ser feito pelo Windows).

Congestionamento de tráfego de SMS?

Dentro do reino do email, as variantes de “spam” (lixo não solicitado) são várias. Algumas começam já a fazer a sua incursão no reino dos telemóveis, como anedotas e desenhos feitos com caracteres. O que será possível esperar vir a receber nos nossos ecrãns? De seguida há uma lista com os vários exemplos de fraudes e cadeias, normalmente todas pedem ou exigem que sejam reenviadas a mais pessoas.

  • Avisos acerca de vírus novos. Normalmente estas mensagens alertam sobre a detecção de um novo vírus que pode causar danos no computador caso se abra um email específico. Apesar de existirem casos verídicos, como o Melissa ou o ILoveYou, também existem “chain letters” que anunciam vírus completamente inexistentes. Apesar de actualmente não existirem vírus informáticos que afectem telemóveis, nada impede que de vez em quando surjam rumores.
  • Situações de emergência médica ou de alguém que desapareceu. Uma determinada pessoa (normalmente uma criança para causar mais impressão) encontra-se no hospital, a necessitar de um tipo de sangue raro ou de dinheiro para fazer uma operação dispendiosa. Outra versão é a do pessoa desaparecida.
  • Anúncios de como ganhar dinheiro, telemóveis, viagens, etc.. Os casos descritos acima são um bom exemplo.
  • Ameaças. Caso não se envie a mensagem a um número de utilizadores, o nosso destino será o de nunca mais ter relações sexuais com alguém, o computador (ou telemóvel) ir-se-á avariar, etc.

No site Chainletters pode-se consultar vários exemplos de casos destes. Para ver os casos da Nokia e da Ericsson clique aqui.

Alarmismos ou a futura realidade?

Como separar a realidade e a ficção nestes casos, especialmente quando podem ser reais, nos casos de pessoas desaparecidas e não serem totalmente inventados? Cabe ao leitor tomar a sua própria decisão quando recebe tais mensagens. No caso dos esquemas concebidos por alguém para arranjar dinheiro, nem é sempre claro distingui-los de campanhas lançadas pelas operadoras. E, em Portugal, as próprias operadoras utilizam o sistema SMS para fazer divulgação das suas promoções, o que torna tudo ainda mais complicado. Uma outra questão é a de como evitar receber mensagens que, na sua quase totalidade não são nada mais que lixo. No caso do email existem sempre as opções de evitar “spam” mail, mas para os utilizadores de telemóveis não é possível impedir a recepção de tais mensagens. O envio deste tipo de correspondência precede em muito o aparecimento de email e de SMS. Apesar do SMS apenas permitir mensagens até um certo número de caracteres nada impede que elas sejam escritas de uma forma mais comprimida e enviadas através das redes existentes. Se em Portugal ainda não foram noticiados casos semelhantes de publicidade enganosa como o descrito em cima em Espanha, as próprias empresas começam a despertar para os usos que as mensagens SMS podem ter em termos de marketing. Mais publicidade nas nossas vidas? Provavelmente não, a menos que as operadoras sejam autorizadas pelo cliente a divulgar anúncios para o seu telemóvel. Mas isso não impede que se actue sem a concordância das operadoras e utilizadores.

André Galvão