Tecnologia no Surf
A tecnologia no surf está a causar profundas transformações.
Em Portugal o surf mobiliza mais de 10 mil atletas federados e 60 mil praticantes. A isto somam-se mais de quatro mil pranchas de surf vendidas anualmente no país e um mercado de material técnico no valor de 100 milhões de euros, segundo dados da Federação Portuguesa de Surf. Estes dados são de 2012. Num artigo publicado no Expresso, em 2015, é possível conhecer outros números relativos a Portugal, sobre o impacto económico do surf.
O facto é que o desporto até pode estar a perder a veia mainstream que o caracterizou outrora (dizem os insiders), mas nem por isso deixa de ser um nicho que apela às marcas e empresas. O sector das novas tecnologias, um dos que menos associamos ao surf, é um dos responsáveis pela sua profunda transformação. Embora o surf por excelência seja ao ar livre, é nas redes sociais que se estabelecem ligações entre fãs e atletas. Nem todos são, admitidamente, fãs desta nova relação tecnológica (‘Is Social Media Threatening Surfing’s Authenticity?’), mas basta conferir estes números para perceber que o surf tem uma presença relevante nas redes sociais.
Os wearables são um pouco menos óbvios, mas estão a revolucionar a capacidade de recolher e analisar dados da indústria. Propostas como o Rip Curl Search GPS, um relógio inteligente moldado para surfistas, resistente a água, ajuda a determinar métricas como o número de ondas surfadas, número de ‘paddles’ ou velocidade dentro de água.
Dentro do mesmo espírito, a Trace – especializada em board tracking – desenvolveu um monitorizador de actividade física que está atento ao desempenho do surfista enquanto recolhe dados sobre as ondas, que de seguida converte em relatórios.
Dados úteis quando se é um atleta profissional.
O vídeo é outro sector importante para os surfistas profissionais. Na hora de registar manobras e ondas, a GoPro é a marca por excelência (há dúvidas quanto a isso?) e assume uma postura quase tradicional na captura de imagens de alta resolução, que os atletas partilham com os treinadores na procura de feedback.
Mais recentemente a recolha de imagens em contexto de surf profissional sofreu um upgrade graças à introdução de drones comerciais, que oferecem uma nova perspectiva na recolha de vídeo. Os drones têm a vantagem de voar próximos da água sem interferirem com as manobras dos surfistas.
Mas no surf nem tudo gira à volta dos atletas. Um exemplo disso está na Smartphin, uma barbatana ‘hi-tech’ equipada com um sensor que mede a acidez, níveis de salinidade e temperatura da água. Os dados recolhidos são depois enviados para o smartphone do utilizador.
Menos previsível, mas igualmente influente, é o papel da realidade virtual na divulgação da experiência do surf. Em 2015, durante o US Vans Open, a Samsung convidou o público a experimentar uma simulação, em cima de uma prancha em movimento, acompanhados pelos Gear VR Innovator Edition.
Esta abordagem corre o risco de parecer bizarra sob a perspectiva portuguesa, tão próxima do mar, mas em países onde o contacto com as ondas é mais limitado, a realidade virtual pode ser um modo válido de experimentar as sensações proporcionadas pelo surf.
A relação entre surf e tecnologia ainda é susceptível de causar uma certa estranheza. Greg Kroleski, fundador da SurfScience.com, diz que “os surfistas têm uma relação muito estranha com a ideia de ‘novo’. Apesar de alguns estereótipos comuns, temos tendência para ser um grupo conservador no que diz respeito a aceitar mudanças. Gostamos das coisas como são, e com todo o direito.”
No entanto, tudo o resto mudou.
“Para mantermos o status quo, temos de nos adaptar”, escreve.
“Enquanto surfistas, precisamos de desenvolver uma relação saudável com o que é ‘novo’. Precisamos de tratar a tecnologia como um work in progress e abordá-la abertamente. Precisamos de ser críticos e honestos”.