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Telemóveis afectam relações sociais?

Os telemóveis podem ajudar às relações cara-a-cara e acentuar as diferenças culturais de uma forma saudável e construtiva. Surpreendente ou não, polémica ou nem por isso, a conclusão surge de um estudo de um reputado professor da Universidade de Zurique que vem desmistificar o papel das novas tecnologias ligadas à mobilidade.

Ao contrário do que se possa pensar, os telemóveis e todo o tipo de novas tecnologias facilitam a tradução de disposições psicológicas e socioculturais directamente no comportamento humano, uma vez que reduzem e, em certos casos, eliminam mesmo muitos obstáculos e distorções que contribuíram, nos últimos anos, para o enfraquecimento das relações empíricas.

A conclusão é de Hans Geser, professor da Universidade de Zurique, e resulta de um estudo efectuado pelo académico suíço intitulado “Rumo a uma Teoria Sociológica do Telefone Móvel.” De acordo com a pesquisa, que teve como objectivo analisar o modo como os telemóveis podem afectar as relações cara-a-cara, particularmente entre a população mais jovem, os dispositivos móveis não só não reduzem este tipo de relações, como podem mesmo amplificá-las.

O estudo conclui que, em vez de criar potenciais comunidades a nível global de carácter homogéneo, o telemóvel pode contribuir para acentuar as diferenças culturais entre segmentos da população, instituições sociais ou culturas étnicas. Para Hans Geser, o telemóvel irá “privilegiar as colectividades constituídas com base em membros particulares, ao invés de locais ou territórios (por exemplo, famílias e grupos étnicos em vez de cidades ou escolas).”

No que toca às relações grupais, a pesquisa adianta que os telemóveis podem alterar sobremaneira as tradicionais lideranças ou a formação de subgrupos dominantes que exercem o poder sobre os demais. “De uma forma geral”, refere o professor Geser, “os telefones móveis eliminam os mecanismos tradicionais que mantiveram os níveis de segregação social sobre os indivíduos, assim como a segregação entre diferentes sistemas sociais.” “Em vez disso”, acrescenta o académico, “cada indivíduo é agora incumbido de manter as diferenças entre o comportamento pessoal e as normas sociais e de regular as fronteiras entre diferentes relações sociais, grupos, organizações e instituições.”

Tendo em conta todas estas premissas, o estudo do professor suíço prevê que a procura de controlo social aumente bastante porque, “num mundo onde a diferenciação social já não pode ser efectuada com base na segregação espacial, a mesma tem de ser exponencialmente assegurada pelo controlo do comportamento individual.”

O fim do fosso das nações

Além de atenuar as diferenças entre indivíduos, os telemóveis estão a contribuir para reduzir o fosso entre países ricos e pobres, aproximando o chamado Terceiro Mundo dos países ocidentalizados. Um estudo recente do International Telecommunication Union mostra como os telemóveis vieram contribuir para o fim de diferenças seculares no uso das telecomunicações entre as nações mais desenvolvidas e os países em vias de desenvolvimento.

Segundo a pesquisa, em 2001, 100 países (muitos deles africanos) detinham mais telemóveis que telefones fixos, concluindo que a tecnologia móvel é muito mais potente que a computacional na ligação de populações mais desfavorecidas à esfera da informação digitalizada. “No âmbito dos países desenvolvidos, a difusão geográfica e evolução da tecnologia móvel contrasta amplamente com os padrões habituais que regem a maior parte das outras tecnologias”, acrescenta o relatório.