Tendências Mobile para 2013: à conversa com Nuno Parreira, Director de Informação e Mobilidade da Samsung Electrónica Portuguesa
O Telemoveis.com foi à sede da Samsung Electrónica Portuguesa no Lagoas Park, em Oeiras, conversar com Nuno Parreira – Director de Informação e Mobilidade da Samsung Electrónica Portuguesa – sobre as tendências mobile para 2013.
- Lauro Lopes
- 20/06/2013
- Mobile, Samsung, Tecnologia
A Samsung é um claro exemplo de sucesso dentro daquilo que podemos considerar ser o segmento mobile: é a actual líder por excelência dentro do segmento Android, o seu mais recente Samsung Galaxy S4 tem batido recordes por todo o mundo e, inclusive, conseguiu ultrapassar ’em casa’ a sua maior rival. Só que, como seria de esperar, este percurso não tem sido traçado sem ser alvo de algumas contestações. Foi muito recentemente que Alvim Lim, analista da Fitch, contestou a criatividade inovadora da Samsung ao afirmar que a empresa sul-coreana ainda teria que criar uma nova categoria de mercado.
‘Ainda terá que provar?‘, espanta-se Nuno Parreira, Director de Informação e Mobilidade da Samsung Electrónica Portuguesa. Há claramente uma diferença de opiniões: ‘a nossa inovação faz sentido ao consumidor final e ao mercado‘. E acrescenta: ‘o que eu sinto é que o consumidor final cada vez mais dá valor à inovação, e o que é certo é que o mercado tem ditado que a Samsung tem vindo a crescer na área dos smartphones‘.
Tínhamos a discussão lançada e o motivo ideal para expandirmos o mote da conversa – Tendências Mobile 2013 – para fora de um território exclusivamente associado a telemóveis ou smartphones. Só que esta mesma discussão prometia não ser fácil, especialmente por nos termos apercebido de que podem existir diversas abordagens diferentes na classificação de um novo segmento de mercado. Inevitavelmente acabámos por falar no Galaxy Note, um produto inicialmente introduzido como um device que combina aspectos de tablet à mobilidade de um smartphone, mas que depressa se expandiu e é considerado pela Samsung como ‘uma nova categoria que se diferencia pela disponibilização da S Pen‘.
‘A categoria Note é transversal, vai desde os tablets aos smartphones. Será uma categoria, mas não será uma categoria vertical. Será uma categoria horizontal, que é transversal a todas as áreas‘, refere-nos o Director de Informação e Mobilidade da Samsung Electrónica Portuguesa. ‘Eu vejo o Galaxy Note como sendo uma categoria e um produto que não vejo em mais nenhum lado‘. Fez todo o sentido que a nossa conversa com Nuno Parreira tenha passado pelo Note. Se nos recordarmos do seu lançamento em 2011 e de algumas das críticas de que a Samsung havia sido alvo, a verdade é que bastou olharmos para 2012 e para a popularização dos smartphones com ecrãs gigantes para nos apercebermos de que a fabricante sul-coreana havia conseguido prever, com sucesso, uma tendência. E mais importante ainda, havia conseguido tomar a vantagem para si ao dar os primeiros passos neste mercado.
‘A tecnologia exclusiva da caneta activa, como nós temos, mais nenhum fabricante tem. Não só ao nível do hardware como também de todas as características, todas as aplicações embutidas no Galaxy Note têm vindo a ser desenvolvidas cada vez mais, e temos inúmeras aplicações para o consumidor final, o utilizador, para aumentar a sua potencialidade e criatividade‘.
É um facto: o Galaxy Note surgiu como um smartphone com um ‘ecrã acima da média‘, que veio dar resposta à ‘necessidade de ecrãs maiores‘. Esta aposta por parte da Samsung não foi feita inocentemente, embora tenha sido claramente um risco assumido: ‘o consumo de dados é maior, o consumo de aplicações multimédia é cada vez maior‘.
Mas será o Galaxy Note assim tão grande? Após observarmos o ‘andar da carruagem’, inclusive da própria Samsung, talvez não. Existem dispositivos maiores e que ainda assim não se enquadram na categoria de tablet. E o Samsung Galaxy Note 3 ainda não foi, até à data, lançado. Vem-nos à cabeça a mais recente gama de dispositivos Samsung Galaxy Mega.
‘O cliente que queria um device com um ecrã maior teria que optar por ter um Note. E o Note tem tecnologias embutidas que são tecnologias muito mais dispendiosas. Todo um tipo de tecnologias que torna um produto muito mais caro‘. Terá sido o pretexto para expandir a oferta a um novo produto, os mais recentes Galaxy Mega, um dos quais com um ecrã acima das 6 polegadas.
‘Isto é para consumir muita multimédia em mobilidade, mas não necessita de ter a caneta. Existe aqui um mundo de convergência à volta disto. Vimos que existia aqui um bloqueio e necessitávamos de criar um telefone de ecrã elevado mas um pouco menos dispendioso que o Note‘.
E convergência parece ser a palavra de ordem nesta tendência mobile. Os ecrãs gigantes parecem ter vindo para ficar, embora não invalidem a procura por dispositivos mais compactos. ‘Nós estamos a ver cada vez mais pessoas à procura de terminais com ecrãs de maiores dimensões, as pessoas têm essa necessidade‘. Uma tendência que a Samsung acredita ainda estar numa fase inicial, com potencial de crescimento. ‘É uma necessidade latente que vai crescer. Os terminais de ecrãs de 5 e 6 polegadas vão crescer muito no mercado mundial. E o Mega vem responder a essa necessidade‘.
Um futuro que se quer Smart
No futuro, o que é que não será inteligente? Como definir que um dispositivo é inteligente? Olhando para trás poderíamos facilmente recordar o S3, ‘desenhado para humanos‘, apenas para a sua evolução se ter convertido no actual ‘companheiro do dia a dia‘, o Galaxy S4. ‘Um produto que não só interage com o próprio utilizador‘, refere Nuno Parreira, mas que ‘entende alguns dos padrões de utilização do utilizador. Já reconhecem gestos, modos de olhar, já começam a utilizar padrões de utilização. Começamos a ir ao encontro de devices smart, inteligentes‘.
Esta evolução passa também, sobretudo, por facilitar a vida aos seus utilizadores. Poupar-lhes tempo em tarefas essenciais. ‘É óbvio que o conforto de utilização e o modo de utilização‘ desempenham um papel neste percurso. ‘As formas de utilizar o device serão inúmeras. Provavelmente não iremos só falar de smartphones: iremos falar de câmaras digitais, de televisões com funções mais inteligentes. Será todo o mundo à volta da mobilidade‘.
Seria difícil conter-se tanta evolução significativa em uma única categoria de produto. Das câmaras digitais às televisões inteligentes irão surgir, também, relógios e óculos inteligentes. ‘E é perfeitamente natural que venham surgir novas categorias de mercado‘.
Design e Filosofia
A Samsung afirmou haver filosofia no design do Samsung Galaxy S4 que, embora semelhante ao do seu bem sucedido antecessor, não deixou de levantar algumas críticas, especialmente quando pesado na mesma balança que alguns dos seus concorrentes que alegam apresentar um aspecto premium e elegante. Uma característica que, apesar de criticada, não parece ter invalidado o sucesso do novo topo-de-gama Android por todo o mundo, inclusive em Portugal.
‘Eu acho que uma boa estratégia de design, e para uma pessoa que comprou um telefone, que é um produto dispendioso, é ter um design que dure durante alguns anos‘. Nuno Parreira traçou-nos um exemplo através do segmento automóvel, o qual nos é admitidamente alienígena, mas que parece ter servido o seu propósito: as evoluções mais significativas dão-se através de pequenos detalhes, ‘e é a isso que o cliente dá valor. Não querem uma marca que tenha um design camaleão, que a cada ano mude de design‘.
Ainda assim, a resposta à nossa questão sobre o design do Samsung Galaxy S4, não estava respondida. Perguntámos ao Director de Informação e Mobilidade da Samsung se considerava o design do Galaxy S4 uma característica premium. A resposta veio logo a seguir: ‘a Samsung acha que este é um design minimalista, premium, um design a que o cliente final dá valor. E um cliente da Samsung que tenha comprado um S3 no ano passado não tem que ter já um novo produto da Samsung com um design diferente. E esse é um dos grandes trunfos da Samsung: criámos uma identidade no nosso design, não só desde o produto premium‘, mas também nas suas gamas baixas. ‘Esse design é reconhecido pelo cliente final. Temos que encontrar o design certo e a partir daí fazer algumas alterações‘.
É claro que algumas das críticas à qualidade premium de dispositivos como o Samsung Galaxy S4 não estão exclusivamente relacionadas com o seu design, mas sim com a sua própria construção. A impressão com que ficámos foi que a Samsung não se pergunta ‘porque não’ aos corpos à base de alumínio ou metal, mas apenas ‘porquê’ – é que existem alternativas às quais a Samsung opta por recorrer.
Nuno Parreira admite compreender e não compreender as críticas. ‘Depende dos pontos de vista. O que é certo é que o Galaxy S4 é o produto mais vendido em Portugal acima do segmento dos 400 euros. As pessoas dão valor a outras coisas além de terem um produto com um design em aço, todo escovado, mas que irá pesar 150g. E [que seja] pouco prático. A Samsung procura outro tipo de materiais, neste caso policarbonato, que é concebido para os capacetes dos pilotos de fórmula 1, que são 130 vezes mais resistentes que o plástico normal‘.
Infelizmente, e apesar de termos bastante presente a boa performance do Samsung Galaxy S4 a nível global, não nos foi possível obter números relativos ao mercado português. Mas eis o que sabemos: ‘desde que foi lançado, semana após semana, consecutivamente, é o número 1‘. A título de comparação, o Director de Informação e Mobilidade da Samsung adiantou-nos que o número de unidades vendidas do Galaxy S4 se encontra ainda duas vezes acima das do S3. O motivo? Clientes satisfeitos e um punhado de novos fãs: ‘vemos muitos clientes de outras marcas a fazerem a mudança para o S4‘.
Apontar em todas as direcções
Um dos aspectos mais criticados na Samsung parece ter sido também a receita para o seu sucesso. Referimo-nos, claro está, à estratégia multiplataforma da empresa, que apresenta um sem número de dispositivos para dar resposta às mais diversas categorias de mercado.
Isto inclui não só as baixas, médias e altas gamas, mas também as suas respectivas variantes. ‘A estratégia da Samsung é seguir também as tendências de mercado nos sistemas operativos‘, referiu- nos Nuno Parreira em relação à estratégia da Samsung para dispositivos com Windows Phone ou Tizen. Na altura teríamos colocado em questão a possibilidade de um canibalizar as vendas do outro.
‘Nós temos uma equipa de marketing que anda constantemente a olhar para o mercado global e o mercado local, das regiões. Vamos notando algumas tendências e, conforme as tendências vão apontando, nós vamos apontando baterias também. Não temos uma grande variedade no Windows Phone porque o mercado também não pede. Porque haveremos de ter um grande portefólio de Windows Phone se o mercado não pede‘? Enquanto estivemos reunidos com Nuno Parreira não nos lembrámos de perguntar se o Tizen poderia ser visto como uma alternativa Samsung ao Android, conforme vários rumores têm vindo a apontar na Internet. Mas obtivemos a percepção de ser apenas um mero receio infundado. ‘Nós iremos continuar a trabalhar na multiplataforma, que é desde sempre a nossa estratégia. Nós não mudámos de estratégia‘.
Telemóveis à prova de água, ecrãs flexíveis e 4G LTE
Alguém ainda se lembra da tendência dos ecrãs 3D, que acabou por não se tornar tão popular quanto se previa? Se se recordarem, uma tendência bem mais recente – embora não nascida recentemente – é a dos smartphones à prova de água, além dos ecrãs flexíveis e indestrutíveis. ‘Somos dos fabricantes que mais apostamos nessa área com a nossa gama Active‘, anteriormente chamada X-Cover. ‘Isto são as tendências, e nota-se que cada vez mais temos que segmentar o mercado de uma forma vertical e horizontal, em que surgem estes segmentos de mercado que cada vez são mais procurados e diversificados. Por essa razão é que o marketing é tão importante, para segmentar e ir ao encontro do cliente final‘.
Outra das tendências crescentes, mas cujas previsões já poderíamos traçar no ano passado, é a evolução das tecnologias de banda larga como o 4G. ‘A revolução ainda agora começou. O 4G irá acelerar o número de categorias no mercado móivel. Vão deixar de haver só telemóveis e vão surgir muitas categorias neste mundo de mobilidade‘.
Convergência parece vir a ser a palavra de ordem num futuro muito próximo, muito à volta do mobile, um conceito que cada vez mais se encontra em constante transformação. ‘As tendências que consigo aqui resumir é que vão existir realmente novas categorias à volta da mobilidade, não são só os telefones. Vejo também o fenómeno da convergência realmente a fixar-se no mercado‘.
Na opinião de Nuno Parreira, a partilha está na base desta convergência. A partilha de informações e de conteúdos, facilitada pela comunicação possível entre vários aparelhos distintos. ‘O cliente final quer que os seusaparelhos entre si, e os da família, possam todos partilhar uma base comum‘. Ficámos sem perceber se Nuno Parreira se referiu aos efeitos desta partilha por ‘comunidade’ ou ‘comodidade’, mas a verdade é que achámos que ambos os termos seriam apropriados e que se adaptariam, facilmente, a universos distintos como o mundo empresarial. ‘Vejo também o mundo empresarial cada vez mais a olhar para o mundo da mobilidade de uma outra forma. Deixarmos de olhar para o IT e olharmos mais para a mobilidade como forma de reduzir alguns custos e aumentar a sua produtividade‘.
Um futuro para todos
Seria de esperar que, com a evolução tecnológica e a sua consequente comercialização, mais e mais pessoas venham a ter acesso ao futuro mobile que se encontra a ser traçado. Isto já inclui actualmente crianças e pessoas idosas, ‘que até agora não estavam no segmento dos smartphones e da mobilidade, começarem a utilizá-los como um produto de massa. É uma nova tendência, as pessoas mais novas utilizarem muitos tablets e smartphones. Poderá criar aqui novos segmentos de mercado‘.
O que Nuno Parreira já reconhece existir. ‘Tablets para pessoas mais novas, smartphones para séniores. Eu vejo um número de possibilidades infinitas‘. Como o 5G. ‘Quando uma tecnologia pode permitir o download de filmes em 1 segundo eu vejo inúmeras tendências na minha cabeça. É algo que poderá acontecer ou não acontecer. Eu posso dizer que as tendências do futuro vão um pouco nesta linha, mas um pouco mais à frente será impossível de prever‘.
Este futuro poderá implicar ‘carros comunicarem entre si‘, ou até mesmo ‘hologramas‘ em ‘reuniões com velocidades 5G‘. Tudo com o mobile no centro. ‘Nós iremos andar à volta do mobile. Isto com toda a certeza irá acontecer. Todas as famílias, todas as pessoas, todas as empresas vão funcionar à volta do mobile‘.